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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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Em outras palavras, um texto postula o seu próprio <strong>de</strong>stinatário como<br />

condição imprescindível <strong>da</strong> pontenciali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> comunicação e <strong>de</strong> significação. Um<br />

texto é feito para que o leitor o renove. Uma espécie <strong>de</strong> leitor virtual, que é s<strong>em</strong>pre<br />

solicitado a executar sua parte no próprio trabalho <strong>de</strong> leitura e construção <strong>de</strong><br />

sentido. O texto é composto por espaços <strong>em</strong> branco a ser<strong>em</strong> preenchidos pelo leitor<br />

e vive <strong>da</strong> valorização <strong>de</strong> sentido que o receptor ali colocou. Por outro lado, para que<br />

o leitor assuma esse traço ativo, é preciso que o texto proponha uma imag<strong>em</strong> do<br />

leitor mo<strong>de</strong>lo que ele prevê. Assim,<br />

Por enquanto, só quero dizer que qualquer narrativa <strong>de</strong> ficção é necessária<br />

e fatalmente rápi<strong>da</strong> porque, ao construir um mundo que inclui uma<br />

multiplici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> acontecimentos e <strong>de</strong> personagens, não po<strong>de</strong> dizer tudo<br />

sobre esse mundo. Alu<strong>de</strong> a ele e pe<strong>de</strong> ao leitor que preencha to<strong>da</strong> uma<br />

série <strong>de</strong> lacunas. Afinal (como já escrevi), todo texto é uma máquina<br />

preguiçosa pedindo ao leitor que faça uma parte <strong>de</strong> seu trabalho. Que<br />

probl<strong>em</strong>a seria se um texto tivesse <strong>de</strong> dizer tudo que o receptor <strong>de</strong>ve<br />

compreen<strong>de</strong>r – não terminaria nunca. (ECO, 1994, p. 9)<br />

O texto <strong>de</strong>ve <strong>de</strong>ixar ao leitor a iniciativa interpretativa, <strong>em</strong>bora isso não<br />

signifique total liber<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> interpretações, pois esta também invoca limites. De<br />

acordo com Umberto Eco, o texto <strong>de</strong>ve portar instruções <strong>de</strong> orientação que<br />

permitam ao leitor r<strong>ea</strong>lizar inferências necessárias, autorizando o processo<br />

interpretativo. Estas pistas <strong>de</strong>v<strong>em</strong> guiar o leitor a interpretar. Se para Eco a<br />

interpretação traduz-se num processo criativo, essas dicas, solicitações, <strong>de</strong>v<strong>em</strong> ser<br />

forneci<strong>da</strong>s pela própria obra, que <strong>de</strong>ve ser vista como um mo<strong>de</strong>lo aberto e não<br />

restritivo, constituído por um manancial <strong>de</strong> cultura codifica<strong>da</strong>, não representável na<br />

prática.<br />

Esta construção po<strong>de</strong> ser elabora<strong>da</strong> com um mero título, como, por ex<strong>em</strong>plo:<br />

Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>. No título criado por Dai Sijie, t<strong>em</strong>os o nome do<br />

escritor Honoré <strong>de</strong> Balzac, símbolo <strong>da</strong> literatura francesa e mesmo oci<strong>de</strong>ntal, e a<br />

presença <strong>da</strong> simples e selvag<strong>em</strong> <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, mostrando o lado oriental.<br />

No título, Oriente e Oci<strong>de</strong>nte caminham juntos.<br />

Ou, po<strong>de</strong> ser elabora<strong>da</strong> por armadilhas que faz<strong>em</strong> o leitor cair, como o final<br />

surpreen<strong>de</strong>nte, on<strong>de</strong> a expectativa do leitor é rompi<strong>da</strong>. Ao abandonar Luo, a<br />

Costureirinha nos guia para um outro caminho <strong>em</strong> nossa leitura. Passamos a atribuir<br />

um novo sentido para aquela relação amorosa, e entend<strong>em</strong>os que o triângulo<br />

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