em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
O relato <strong>de</strong> Luo nos r<strong>em</strong>ete para o campo <strong>da</strong> leitura e os aprendizados <strong>da</strong><br />
personag<strong>em</strong> através dos textos literários. Assim como o nado, no início, era pobre,<br />
feito apenas com o uso dos braços, o que dificulta a locomoção na água, <strong>de</strong>pois,<br />
com o ensino passa a ter outras mo<strong>da</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong>s, a leitura era feita a partir <strong>da</strong>s<br />
imagens, <strong>de</strong>pois ganha vi<strong>da</strong> associando-se à palavra com a leitura <strong>em</strong> voz alta feita<br />
pelos dois amigos. O ápice <strong>da</strong> conquista v<strong>em</strong> com as <strong>de</strong>scobertas individuais. Com<br />
as leituras, “[...] n<strong>em</strong> a maldita vi<strong>da</strong> n<strong>em</strong> o maldito mundo po<strong>de</strong>riam ser como antes.”<br />
(SIJIE, 2000, p. 96)<br />
A cena que mais nos causa estranhamento está no final do filme. No livro, a<br />
<strong>costureirinha</strong> alça voo como um pássaro, abandonando sua al<strong>de</strong>ia, seu pai e os dois<br />
amigos, além do seu amor por Luo.<br />
Luo ficou <strong>de</strong> pé, e ela, num salto, <strong>de</strong>sceu o rochedo. Em vez <strong>de</strong> se atirar nos<br />
braços do amante <strong>de</strong>sesperado, ela pegou a trouxa e se foi, num passo <strong>de</strong>cidido.<br />
_Espera! – gritei, agitando a batata-doce.<br />
_V<strong>em</strong> comer uma batata! Eu preparei para você.<br />
Meu primeiro grito a fez correr pelo caminho, meu segundo a impeliu ain<strong>da</strong><br />
mais longe, e meu terceiro a transformou <strong>em</strong> pássaro que alçou vôo s<strong>em</strong><br />
se <strong>da</strong>r um minuto <strong>de</strong> trégua. Então, foi ficando ca<strong>da</strong> vez menor e<br />
<strong>de</strong>sapareceu. (SIJIE, 2000, p. 164)<br />
Esse final <strong>da</strong> história causa <strong>em</strong> nós, leitores, certo impulso imaginativo. É<br />
como se tivéss<strong>em</strong>os uma página <strong>em</strong> branco para construirmos o <strong>de</strong>stino que tiveram<br />
aquelas vi<strong>da</strong>s. Já no filme, é o próprio Dai Sijie que assume a página <strong>em</strong> branco ao<br />
final do romance. T<strong>em</strong>os a impressão que Sijie quis nos contar mais, quis <strong>da</strong>r uma<br />
vi<strong>da</strong> mais longa àquelas personagens. O <strong>de</strong>sfecho é outro. São apresenta<strong>da</strong>s as<br />
conseqüências que tiveram aquelas vi<strong>da</strong>s. Mais uma vez há referência entre a vi<strong>da</strong><br />
r<strong>ea</strong>l e a ficcional, pois um dos personagens acaba indo viver na França, o que<br />
acontece com Dai Sijie <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> ser reeducado.<br />
68<br />
_Naquela época nós não fazíamos idéia do que<br />
iria acontecer conosco.