em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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Segundo o próprio escritor e produtor, a explicação para tanta censura não<br />
estaria <strong>em</strong> falar sobre a reeducação cultural, mas, sim, <strong>em</strong> mostrar a transformação<br />
<strong>de</strong> um indivíduo a partir <strong>da</strong> leitura <strong>de</strong> textos literários oci<strong>de</strong>ntais.<br />
Não é que eu tenha tocado na Revolução Cultural.<br />
Eles não aceitam que a literatura oci<strong>de</strong>ntal po<strong>de</strong>ria mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> uma menina<br />
<strong>chinesa</strong>. Expliquei que a literatura clássica é um patrimônio universal, mas<br />
na<strong>da</strong> consegui. (RIDING, 2005) 39<br />
De acordo com ele, outro aspecto não tão ruim quanto o primeiro citado<br />
acima, mas que ajudou a censura <strong>chinesa</strong> a tomar a <strong>de</strong>cisão <strong>de</strong> não liberar a<br />
exibição do filme, é o papel do chefe camponês que representa uma imag<strong>em</strong> <strong>de</strong><br />
comunista <strong>de</strong> base e que no filme t<strong>em</strong> um ar idiota. Ele é facilmente enganado pelos<br />
dois amigos. Logo no primeiro momento <strong>da</strong> trama, os dois amigos já se mostram<br />
astuciosos. Ao perceber<strong>em</strong> a raiva do chefe pelo violino, que para ele era símbolo<br />
<strong>da</strong> burguesia, Luo explica que é um instrumento musical e pe<strong>de</strong> para que o amigo<br />
violinista toque uma canção, mais tar<strong>de</strong> intitula<strong>da</strong> <strong>de</strong> Mozart pensa no presi<strong>de</strong>nte<br />
Mao. Ao examinar o objeto <strong>de</strong>sconhecido, o chefe afirma:<br />
_ É um brinquedo burguês, <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
Gelei apesar do fogo aceso no meio <strong>da</strong> sala. Ouvi o chefe acrescentar:<br />
_É preciso queimá-lo!<br />
A ord<strong>em</strong> provocou <strong>de</strong> imediato forte r<strong>ea</strong>ção no grupo. Todos falavam,<br />
gritavam, <strong>em</strong>purravam-se. Queriam agarrar o “brinquedo” só pelo simples<br />
prazer <strong>de</strong> atirá-lo ao fogo com as próprias mãos.<br />
_Chefe, isso é um instrumento musical – disse Luo com <strong>de</strong>s<strong>em</strong>baraço.<br />
_Meu amigo é um bom músico, s<strong>em</strong> brinca<strong>de</strong>ira.<br />
O chefe pegou <strong>de</strong> novo o violino e, mais uma vez, o revistou para, <strong>em</strong><br />
segui<strong>da</strong>, <strong>de</strong>volvê-lo a mim. (...)<br />
De repente, percebi que Luo me fazia um sinal. Espantado, peguei o violino<br />
e comecei o afiná-lo.<br />
_Vocês vão ouvir uma sonata <strong>de</strong> Mozart, chefe – anunciou Luo, tão<br />
tranqüilo quanto estivera antes.<br />
Fiquei aturdido. Ele estava doido. Há anos to<strong>da</strong>s as obras <strong>de</strong> Mozart, assim<br />
como a <strong>de</strong> qualquer outro autor oci<strong>de</strong>ntal, estavam proibi<strong>da</strong>s <strong>em</strong> todo o<br />
país.(...)<br />
_Como é que se chama essa canção?<br />
(...)<br />
_Mozart... – hesitei.<br />
(...)<br />
_Mozart pensa no presi<strong>de</strong>nte Mao – completou Luo <strong>em</strong> meu lugar. (SIJIE,<br />
2000, p.6 – 7)<br />
39 It wasn't that I touched the Cultural Revolution. They did not accept that Western literature could<br />
change a Chinese girl. I explained that classical literature is a universal heritage, but to no avail.<br />
(RIDING, Alan, Artistic Odyssey: Film to Fiction to Film. Disponível <strong>em</strong>:<br />
http://www.nytimes.com/2005/07/27/movies/MoviesF<strong>ea</strong>tures/27balz.html Acessado <strong>em</strong>: 04 julho 2009.<br />
A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />
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