em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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O monumento t<strong>em</strong> como característica o ligar-se ao po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> perpetuação,<br />
voluntária ou involuntária, <strong>da</strong>s socie<strong>da</strong><strong>de</strong>s históricas (é um legado à<br />
m<strong>em</strong>ória coletiva) e o reenviar a test<strong>em</strong>unhos que só numa parcela mínima<br />
são test<strong>em</strong>unhos escritos. (LE GOFF, 2003 p.526)<br />
Perceb<strong>em</strong>os que o gran<strong>de</strong> elo entre passado e presente, entre m<strong>em</strong>ória e<br />
esquecimento está entre esses dois mundos: o vivido no t<strong>em</strong>po presente e o<br />
r<strong>ea</strong>vivado nos test<strong>em</strong>unhos escritos. Ao r<strong>ea</strong>lizar um texto a partir <strong>da</strong>s experiências e<br />
dos conhecimentos adquiridos <strong>em</strong> uma outra cultura (no caso a francesa), Dai Sijie<br />
abor<strong>da</strong> os acontecimentos durante a Revolução Cultural com novos olhos. Os dois<br />
jovens <strong>de</strong>sejosos <strong>da</strong>s leituras oci<strong>de</strong>ntais, os nomes dos escritores oci<strong>de</strong>ntais citados<br />
ao longo do romance, as transformações sofri<strong>da</strong>s pelos personagens, as críticas<br />
feitas ao Presi<strong>de</strong>nte Mao Tse Tung e sua nova campanha, nos apontam para um<br />
escritor chinês que teve seu olhar filtrado pela cultural oci<strong>de</strong>ntal.<br />
O Grupo M<strong>em</strong>ória Popular (2004, p. 286) alerta para o fato <strong>de</strong> que “[...] a<br />
m<strong>em</strong>ória é [...] um termo que chama a nossa atenção não para o passado, mas para<br />
a relação passado-presente. É porque o ‘passado’ t<strong>em</strong> esta existência ativa no<br />
presente que é tão importante politicamente”<br />
Além disso, <strong>de</strong> acordo com François Dosse (2000, p. 290), a m<strong>em</strong>ória<br />
estabelece espaços <strong>de</strong> diálogo com a r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> social e como significado <strong>da</strong>do ao<br />
passado. Vivendo na França por muitos anos, o olhar do escritor também é<br />
transformado. Ele se torna um autor imigrante que observa sua cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong><br />
numa outra posição. A partir <strong>de</strong>ste novo ângulo, o olhar se torna estrangeiro sobre a<br />
sua própria cultura, a m<strong>em</strong>ória é revesti<strong>da</strong> por outros el<strong>em</strong>entos culturais exógenos<br />
ao momento <strong>em</strong> que os fatos foram vividos e o presente <strong>em</strong>bute novos valores que<br />
são inseridos nos momentos <strong>de</strong> l<strong>em</strong>brança.<br />
Segundo Edward Said:<br />
Ver ‘o mundo inteiro como uma terra estrangeira’ possibilita a originali<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
<strong>da</strong> visão. A maioria <strong>da</strong>s pessoas t<strong>em</strong> consciência <strong>de</strong> uma cultura, um<br />
cenário, um país; Os exilados têm consciência <strong>de</strong> pelo menos dois <strong>de</strong>stes<br />
aspectos, e esta plurali<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> visão dá orig<strong>em</strong> a uma consciência <strong>de</strong><br />
dimensões simultân<strong>ea</strong>s [...] (SAID 2003, p.59)<br />
Utilizando as informações trazi<strong>da</strong>s pelo autor Edward Said sobre a experiência<br />
dos exilados, entend<strong>em</strong>os que tais sentimentos e condições são equivalentes para<br />
os indivíduos migrantes. No distanciamento <strong>da</strong> China, Dai Sijie entra <strong>em</strong> contato<br />
com um novo mundo, com novas i<strong>de</strong>ologias e diferentes modos <strong>de</strong> pensar. É a<br />
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