em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
cont<strong>em</strong>plar o período <strong>de</strong> juventu<strong>de</strong> que teve no passado, relacionando as peças <strong>de</strong><br />
um contexto social complexo com sua m<strong>em</strong>ória individual. Essa cont<strong>em</strong>plação já é<br />
feita com um novo olhar, pois <strong>em</strong> 1984, Dai Sijie ganha uma bolsa <strong>de</strong> estudos na<br />
França e, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> então, fica permanent<strong>em</strong>ente lá. É enquanto escritor capaz <strong>de</strong><br />
recuperar as histórias passa<strong>da</strong>s na China que ele conseguirá fazer a travessia entre<br />
duas línguas, entre dois espaços culturais, entre oriente e oci<strong>de</strong>nte, escrevendo seu<br />
romance na língua francesa. É graças à imigração para a França, ao entre-lugar 34 e<br />
à língua que lhe é assegurado o ir e vir criativo, s<strong>em</strong> censuras entre as duas<br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>s e os dois mundos.<br />
Eu vivi mais <strong>de</strong> quinze anos na França, mas minhas raízes estão na China.<br />
Minhas dores, elas, estão <strong>em</strong> mim. (Parcours Littéraires Francophones) 35 .<br />
É através <strong>da</strong>s suas raízes fixa<strong>da</strong>s na China que surge o sentimento <strong>de</strong> dor<br />
sentido por Dai Sijie, mas, somente com a presença <strong>de</strong> uma língua estrangeira – a<br />
língua francesa –, que ele consegue exteriorizar tais sofrimentos e l<strong>em</strong>branças que<br />
não po<strong>de</strong>riam ser recupera<strong>da</strong>s <strong>em</strong> man<strong>da</strong>rim, pelo fato <strong>da</strong> língua não ser neutra e<br />
ser investi<strong>da</strong> <strong>de</strong> todo um contexto social, político, econômico e cultural. É na língua<br />
do outro que o autor ganha o po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> <strong>de</strong>nunciar e <strong>da</strong>r voz a m<strong>em</strong>órias que seriam<br />
censura<strong>da</strong>s <strong>em</strong> sua língua materna, pois <strong>de</strong>nunciam formas <strong>de</strong> violência até há<br />
pouco existentes na China. Portanto, a língua também se torna instrumento <strong>de</strong><br />
libertação.<br />
Por outro lado, não é <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Dai Sijie, n<strong>em</strong> <strong>de</strong> outros escritores que se<br />
encontram <strong>em</strong> situação s<strong>em</strong>elhante, como : escritores expatriados, exilados e<br />
migrantes, trair sua cultura <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. No caso <strong>de</strong> Dai Sijie, é a partir <strong>de</strong> sua primeira<br />
i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong>, que o escritor cria seu test<strong>em</strong>unho <strong>em</strong> <strong>torno</strong> dos acontecimentos<br />
ocorridos na Montanha Fênix Celestial. A imponente montanha distante <strong>da</strong><br />
civilização e reduto <strong>da</strong> ignorância humana é apresenta<strong>da</strong> ao mundo, ganhando<br />
status <strong>de</strong> monumento. Segundo o historiador Jacques Le Goff:<br />
34 Situação <strong>de</strong> entre-lugar; entre Oriente e Oci<strong>de</strong>nte, pois Dai Sijie <strong>em</strong>igra <strong>da</strong> China fixando residência<br />
na França e passa a conviver entre duas culturas, duas línguas.<br />
35 J’ai vécu plus <strong>de</strong> quinze ans en France, mais mes racines sont en Chine. Mes douleurs, elles, sont<br />
en moi. (A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>)<br />
Retirado <strong>em</strong> 30 <strong>de</strong> set<strong>em</strong>bro <strong>de</strong> 2009 <strong>de</strong> http://crdp.acparis.fr/parcours/in<strong>de</strong>x.php/category/<strong>da</strong>i<br />
47