em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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Na obra Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, Dai Sijie, certamente, reconstrói os<br />
discursos <strong>de</strong> sua m<strong>em</strong>ória que se formam pela manipulação, falsificação,<br />
reconfiguração consciente ou inconsciente do passado. A relação com o passado,<br />
com a m<strong>em</strong>ória, e com a própria i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> também se interliga aos espaços<br />
urbanos, que são a preferência do narrador-personag<strong>em</strong> e <strong>de</strong> seu amigo Luo.<br />
Como afirma Sandra Pesavento (2002, p. 122), a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> é o lugar on<strong>de</strong> os<br />
sujeitos constro<strong>em</strong> as suas relações sociais, materializam articulações e <strong>em</strong>bates<br />
<strong>em</strong> diferentes grupos. Além disso, na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> se manifesta uma forma varia<strong>da</strong> <strong>de</strong><br />
discursos e olhares que se completam, se compõ<strong>em</strong> e entram <strong>em</strong> contradição:<br />
[...]esse espaço [a ci<strong>da</strong><strong>de</strong>] sonhado, <strong>de</strong>sejado, trabalhado e/ou imposto<br />
[pelos sujeitos históricos] é, por sua vez, também reformulado, vivido e<br />
<strong>de</strong>scaracterizado pelos habitantes <strong>da</strong> urbe, que, a seu turno, o requalificam<br />
e lhe confer<strong>em</strong> novos sentidos. (PESAVENTO, 2002, p.122)<br />
Ao se distanciar<strong>em</strong> dos centros urbanos para ser<strong>em</strong> reeducados nos campos<br />
<strong>de</strong> trabalhos, Luo e o narrador ve<strong>em</strong> a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> como espaço <strong>de</strong> integração social,<br />
on<strong>de</strong> não são vistos e n<strong>em</strong> tachados como simples reeducandos. É no centro<br />
urbano <strong>de</strong> Chengtu que os dois jovens tornam-se anônimos <strong>em</strong> meio à multidão, se<br />
aproveitando dos múltiplos discursos <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>, como por ex<strong>em</strong>plo: discurso<br />
cin<strong>em</strong>atográfico, político e social, somando-os a leituras dos textos literários e<br />
utilizando-os como subsídios para a inserção <strong>de</strong> novos valores aos montanheses.<br />
No livro M<strong>em</strong>ória Coletiva (1990), Maurice Habwachs afirma que to<strong>da</strong><br />
m<strong>em</strong>ória é social. Para o autor, nossas l<strong>em</strong>branças s<strong>em</strong>pre têm relação com o meio<br />
social <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong>os. Ele ressalta que a construção <strong>de</strong>ssa m<strong>em</strong>ória é pessoal e<br />
<strong>de</strong>pen<strong>de</strong> <strong>da</strong>s nossas relações com a socie<strong>da</strong><strong>de</strong>, tanto no passado quanto no<br />
presente. Segundo Myrian Sepúlve<strong>da</strong> dos Santos:<br />
Se passarmos a compreen<strong>de</strong>r que nossas l<strong>em</strong>branças se relacionam a<br />
quadros sociais mais amplos, compreen<strong>de</strong>r<strong>em</strong>os também que o passado<br />
só aparece a nós a partir <strong>de</strong> estruturas ou configurações sociais do<br />
presente, e que m<strong>em</strong>órias, <strong>em</strong>bora pareçam ser exclusivamente<br />
individuais, são peças <strong>de</strong> um contexto social que não só nos contém como<br />
é anterior a nós mesmos. (SANTOS, 1998, p.134)<br />
Portanto, assim como o narrador conta a história algum t<strong>em</strong>po <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> tê-la<br />
vivenciado, Dai Sijie escreve seu romance <strong>em</strong> 2000. Muito mais tar<strong>de</strong>, após vinte e<br />
seis anos <strong>de</strong> conclusão <strong>de</strong> sua reeducação, ele experimenta a dificul<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong><br />
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