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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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Consi<strong>de</strong>rando o romance <strong>em</strong> questão como uma narrativa <strong>de</strong> caráter<br />

m<strong>em</strong>orial, test<strong>em</strong>unhal e autoficcional, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os atentar para o que Michael Pollak<br />

afirma sobre m<strong>em</strong>ória e i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> social:<br />

A m<strong>em</strong>ória é seletiva. N<strong>em</strong> tudo fica gravado. N<strong>em</strong> tudo fica registrado. A<br />

m<strong>em</strong>ória é, <strong>em</strong> parte, her<strong>da</strong><strong>da</strong>, não se refere apenas à vi<strong>da</strong> física <strong>da</strong><br />

pessoa. A m<strong>em</strong>ória também sofre flutuações que são função do momento<br />

<strong>em</strong> que ela é articula<strong>da</strong>, <strong>em</strong> que ela está sendo expressa. As<br />

preocupações do momento constitu<strong>em</strong> um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> estruturação <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>ória. Isso é ver<strong>da</strong><strong>de</strong> também <strong>em</strong> relação à m<strong>em</strong>ória coletiva, ain<strong>da</strong><br />

que esta seja b<strong>em</strong> mais organiza<strong>da</strong>. (POLLAK, 1992, p.200)<br />

As questões <strong>da</strong> possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> representação <strong>de</strong> qualquer evento<br />

vivenciado, assim como os limites <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória, são fun<strong>da</strong>mentais quando li<strong>da</strong>mos<br />

com escritos autoficcionais. Ou seja, <strong>de</strong>v<strong>em</strong>os refletir sobre até que ponto a<br />

m<strong>em</strong>ória fragmenta<strong>da</strong> <strong>de</strong> alguém, igualmente fragmenta<strong>da</strong> pela violência vivi<strong>da</strong> no<br />

momento <strong>de</strong> reeducação durante a Revolução Cultural na China – no caso do<br />

romance aqui <strong>em</strong> questão - consegue <strong>da</strong>r forma a essa experiência nos seus<br />

test<strong>em</strong>unhos e ser tão fiel aos fatos r<strong>ea</strong>is, porque, como nos aponta Pierre Nora:<br />

Os Lugares <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória nasc<strong>em</strong> e viv<strong>em</strong> do sentimento <strong>de</strong> que não há<br />

m<strong>em</strong>ória espontân<strong>ea</strong>, que é preciso criar arquivos, que é preciso manter<br />

aniversários, organizar celebrações, pronunciar elogios fúnebres, notoriar<br />

atas, porque essas operações são naturais. É por isso que a <strong>de</strong>fesa, pelas<br />

minorias, <strong>de</strong> uma m<strong>em</strong>ória refugia<strong>da</strong> sobre focos privilegiados e<br />

enciuma<strong>da</strong>mente guar<strong>da</strong>dos na<strong>da</strong> mais faz do que levar à<br />

incan<strong>de</strong>scendência a ver<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> todos os lugares <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória.<br />

(NORA, 1993, p.13)<br />

Também é importante pensarmos sobre como essa m<strong>em</strong>ória ain<strong>da</strong> habita o<br />

presente entre o esquecimento e o silêncio, impostos ou não. Pois mesmo estando<br />

t<strong>em</strong>poralmente vivenciando o momento posterior, não pod<strong>em</strong>os tomar isso como<br />

algo já superado e encerrado, pois suas representações são constantes, seja no<br />

esquecimento ou não. É exatamente nesse momento posterior que se encontra<br />

nosso escritor, ao contar suas histórias durante a reeducação. Muitas foram as<br />

l<strong>em</strong>branças que o marcaram profun<strong>da</strong>mente: “N<strong>em</strong> mesmo o passar dos anos me<br />

fez esquecer um acontecimento <strong>da</strong>quela época que me ficou gravado com<br />

excepcional niti<strong>de</strong>z.” (SIJIE, 2000, p. 95) Outras informações eram trazi<strong>da</strong>s <strong>da</strong><br />

m<strong>em</strong>ória com um certo esforço, muitas vezes não sendo l<strong>em</strong>bra<strong>da</strong>s.<br />

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