em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
inventivos, mas pod<strong>em</strong>os afirmar que part<strong>em</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> r<strong>ea</strong>l para receber<strong>em</strong> nova<br />
roupag<strong>em</strong> e criações.<br />
No entanto, a autoficção encontra-se pouco trabalha<strong>da</strong> no que diz respeito a<br />
reflexões teóricas, e principalmente no que diz respeito a t<strong>em</strong>as fun<strong>da</strong>mentais sobre<br />
análise <strong>da</strong> m<strong>em</strong>ória <strong>de</strong> pessoas que passaram por experiência <strong>de</strong> violência que,<br />
mesmo sendo ficção, são escritas a partir <strong>de</strong> fatos r<strong>ea</strong>is, <strong>de</strong> m<strong>em</strong>órias existentes,<br />
que foram vividos por seus autores, ficando evi<strong>de</strong>nte que um el<strong>em</strong>ento recebe<br />
<strong>de</strong>staque no processo <strong>da</strong> escrita autoficcional: a m<strong>em</strong>ória recupera o que ficou preso<br />
no passado, retirando-o do esquecimento, trazendo-o ao presente e misturando-o à<br />
ficção.<br />
Antes <strong>de</strong> tudo, a m<strong>em</strong>ória i<strong>de</strong>ntifica a ausência com a promessa <strong>de</strong><br />
preenchê-la, mas esse enchimento está vinculado a interesses <strong>de</strong> qu<strong>em</strong><br />
l<strong>em</strong>bra. (RAMOS, 2006, p. 12).<br />
Esse é o caso do romance aqui analisado. Pod<strong>em</strong>os supor que são as<br />
m<strong>em</strong>órias do autor Dai Sijie que contribu<strong>em</strong> para a construção <strong>de</strong> todo o cenário<br />
m<strong>em</strong>orialístico <strong>da</strong> montanha <strong>da</strong> Fênix Celestial, atribu<strong>em</strong> papéis aos personagens,<br />
<strong>de</strong>senvolv<strong>em</strong> as tramas <strong>de</strong> forma seletiva, <strong>de</strong> acordo com seus interesses no<br />
momento <strong>da</strong> escrita <strong>da</strong> obra.<br />
A aproximação entre o texto <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e o texto <strong>da</strong> obra se faz evi<strong>de</strong>nte, pois a<br />
narrativa compõe um painel fragmentado do período <strong>de</strong> reeducação cultural vivido<br />
pelo escritor Dai Sijie, fazendo constantes alusões ao mundo oci<strong>de</strong>ntal e oriental<br />
constitutivos <strong>de</strong> sua i<strong>de</strong>nti<strong>da</strong><strong>de</strong> cultural, principalmente a partir <strong>da</strong> França – que no<br />
romance aparece nos textos literários - e a China.<br />
Em Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, o enredo se fixa entre o r<strong>ea</strong>l e o<br />
ficcional. O leitor se questiona: ver<strong>da</strong><strong>de</strong> ou invenção? Isso se reforça quando<br />
analisamos a ambigüi<strong>da</strong><strong>de</strong> que se apresenta na falta do nome do narrador e na<br />
nom<strong>ea</strong>ção <strong>da</strong> personag<strong>em</strong> Costureirinha. Nenhum dos dois é nom<strong>ea</strong>do e não há<br />
nenhuma i<strong>de</strong>ntificação explícita para que façamos uma relação entre autor e<br />
personag<strong>em</strong>. O que t<strong>em</strong>os são el<strong>em</strong>entos <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> r<strong>ea</strong>l que, ao aproximarmos com a<br />
vi<strong>da</strong> dos personagens e o <strong>de</strong>stino <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> um <strong>de</strong>les, nos auxilia a <strong>de</strong>duzir que a<br />
personag<strong>em</strong> Costureirinha – que talvez não seja nom<strong>ea</strong><strong>da</strong> proposita<strong>da</strong>mente – é<br />
aquela mais correspon<strong>de</strong>nte ao autor, por ter a vi<strong>da</strong> ritma<strong>da</strong> e transforma<strong>da</strong> pela<br />
literatura.<br />
44