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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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2.2 O OLHAR ESTRANGEIRO: O PAPEL DA MEMÓRIA NO TEXTO LITERÁRIO<br />

Além <strong>de</strong> nos <strong>de</strong>screver a sacrificante vi<strong>da</strong> na China durante a revolução<br />

cultural, o livro Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong> é, acima <strong>de</strong> tudo, um romance sobre<br />

a felici<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong> literatura, a liber<strong>da</strong><strong>de</strong> proporciona<strong>da</strong> pelos livros e o<br />

po<strong>de</strong>r transformador <strong>da</strong> literatura, numa época <strong>em</strong> que as universi<strong>da</strong><strong>de</strong>s foram<br />

fecha<strong>da</strong>s e os jovens intelectuais foram man<strong>da</strong>dos ao campo, para ser<strong>em</strong><br />

reeducados por camponeses.<br />

O escritor Dai Sijie constrói um romance sobre o po<strong>de</strong>r transformador <strong>da</strong><br />

literatura, reconhecendo-a como veículo importante que permite o estabelecimento<br />

<strong>de</strong> relações interpessoais ricas, o crescimento do leitor, enquanto sujeito, como<br />

el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> transformação <strong>de</strong> si mesmo e do meio social <strong>em</strong> que vive, e agora,<br />

como ver<strong>em</strong>os adiante, também do escritor.<br />

Sab<strong>em</strong>os que Dai Sijie nasceu na China, <strong>em</strong> 1954, proveniente <strong>de</strong> uma<br />

família <strong>de</strong> classe média, com parentes médicos, e também foi enviado a um campo<br />

<strong>de</strong> reeducação, assim como os personagens Luo e o narrador. Passou pela<br />

reeducação entre os anos <strong>de</strong> 1971 e 1974.<br />

Se analisarmos e aproximarmos os <strong>da</strong>dos obtidos sobre a vi<strong>da</strong> pessoal do<br />

escritor e <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> ficcional dos dois personagens do romance Balzac e a<br />

<strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, constatar<strong>em</strong>os que, no mesmo ano que Dai Sijie inicia sua<br />

vi<strong>da</strong> nos campos <strong>de</strong> reeducação, os dois jovens também passam pela mesma<br />

vivência.<br />

O fato do narrador-personag<strong>em</strong> nunca ser nom<strong>ea</strong>do ao longo <strong>da</strong> história<br />

também faz com que este se aproxime ain<strong>da</strong> mais do escritor <strong>em</strong> questão, sendo um<br />

indício <strong>de</strong> que seus olhares – do escritor e do narrador – se cruzam <strong>em</strong> alguns<br />

momentos <strong>da</strong> história narra<strong>da</strong>. Numa breve análise <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> pessoal e <strong>de</strong> sua<br />

obra literária, pod<strong>em</strong>os observar que o autor apresenta marcas <strong>de</strong> sua r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong><br />

mistura<strong>da</strong>s a momentos ficcionais <strong>da</strong> narrativa.<br />

Por todos os indícios <strong>de</strong> que o romance foi bas<strong>ea</strong>do nas experiências <strong>de</strong> Dai<br />

Sijie no campo <strong>de</strong> trabalhos forçados, o classificar<strong>em</strong>os como autoficcional, que<br />

compreend<strong>em</strong>os melhor quando o diferenciamos <strong>da</strong> autobiografia 32 .<br />

32 Conceito elaborado <strong>em</strong> Le Pacte Autobiographique (1975) pelo teórico Philippe Lejeune, sendo<br />

<strong>de</strong>finido por ele como narrativa retrospectiva <strong>em</strong> prosa que uma pessoa r<strong>ea</strong>l faz <strong>de</strong> sua própria<br />

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