em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Enquanto Luo viaja para a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> gran<strong>de</strong>, com a permissão do chefe<br />
camponês, para visitar seu pai, seu amigo fica incumbido <strong>de</strong> proteger a<br />
Costureirinha e prosseguir com as leituras dos diferentes romances.<br />
S<strong>em</strong> nenhuma presunção, constatei que minha leitura, ou a leitura <strong>de</strong> meu<br />
modo, agra<strong>da</strong>va mais à minha ouvinte que a <strong>de</strong> meu antecessor. Ler <strong>em</strong><br />
voz alta uma página inteira parecia-me insuportavelmente marçante, por<br />
isso <strong>de</strong>cidi fazer uma leitura aproxima<strong>da</strong>, quer dizer, lia principalmente<br />
duas ou três páginas, ou um capítulo curto, enquanto ela trabalhava na<br />
máquina. Em segui<strong>da</strong>, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> curta reflexão, fazia-lhe perguntas ou lhe<br />
pedia para adivinhar o que ia acontecer. Depois que ela respondia,<br />
contava-lhe o que estava no livro, parágrafo por parágrafo. De vez <strong>em</strong><br />
quando, não conseguia <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> acrescentar uns <strong>de</strong>talhes aqui e ali,<br />
digamos, alguns toques pessoais, para que ela se divertisse mais com a<br />
história. Acontecia até <strong>de</strong> inventar situações ou introduzir o episódio <strong>de</strong><br />
outro romance, quando achava que o velho pai Balzac estava cansado.<br />
(SIJIE, 2000. p. 133)<br />
Para todos aqueles al<strong>de</strong>ões que ouviam e se <strong>em</strong>ocionavam com as histórias<br />
conta<strong>da</strong>s pelos dois jovens rapazes, a narração era a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> crescer<strong>em</strong> e<br />
se transformar<strong>em</strong>. Os romances lidos por eles serviam como meio <strong>de</strong> libertação dos<br />
momentos difíceis <strong>da</strong> reeducação e como distanciamento <strong>de</strong> to<strong>da</strong> a ignorância<br />
presente nos al<strong>de</strong>ões, sendo também um instrumento transformador do sujeito<br />
social.<br />
Neste sentido, “a literatura oferece a oportuni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> formularmo-nos a nós<br />
mesmos, formulando o não-dito.” (ISER, 1999, v. 2, p. 93). É na formulação <strong>de</strong>sse<br />
não-dito, nos preenchimentos dos vazios do texto que os efeitos causados pela<br />
leitura vão além. É a partir do acesso aos romances, principalmente <strong>da</strong>s obras <strong>de</strong><br />
Balzac, que a protagonista e outros personagens resolv<strong>em</strong> mu<strong>da</strong>r <strong>de</strong> vi<strong>da</strong>. Mostra-se<br />
então que o olhar sobre o mundo se modifica, alterando, também, o comportamento<br />
<strong>de</strong> todos os que, <strong>de</strong> alguma forma, se ve<strong>em</strong> tocados pela literatura. É por intermédio<br />
<strong>de</strong>sse mundo novo, além <strong>da</strong>s fronteiras <strong>chinesa</strong>s, e dos gran<strong>de</strong>s mestres <strong>da</strong><br />
literatura, que o narrador, Luo e a Costureirinha, compreend<strong>em</strong> que suas vi<strong>da</strong>s<br />
pertenc<strong>em</strong> a algo muito maior.<br />
41