em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
[...] a história <strong>de</strong> Úrsula pareceu-me tão ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira quanto a <strong>de</strong> meus<br />
vizinhos. Tinha certeza <strong>de</strong> que os negócios escusos que envolviam aquela<br />
jov<strong>em</strong>, ligados a sucessão e a dinheiro, contribuíam para reforçar a<br />
verossimilhança, aumentando o po<strong>de</strong>r <strong>da</strong>s palavras. Ao final do dia, sentiame<br />
<strong>em</strong> casa <strong>em</strong> N<strong>em</strong>ours, <strong>em</strong> sua casa, perto <strong>da</strong> lareira fumegante, na<br />
companhia <strong>da</strong>queles doutores e <strong>da</strong>queles párocos...Até o episódio sobre<br />
magnetismo e sonambulismo pareceu-me coerente e <strong>de</strong>licioso. (SIJIE,<br />
2000, p. 50)<br />
A partir <strong>de</strong>ssas leituras, os saberes e os novos modos <strong>de</strong> pensar <strong>de</strong> terras<br />
distantes eram conhecidos através <strong>da</strong> literatura, inserindo novas vivências numa<br />
outra cultura <strong>de</strong> forma sutil. A sutileza com que os rapazes introduz<strong>em</strong> novos<br />
pensares naqueles habitantes <strong>da</strong> Montanha Fênix está no simples fato <strong>de</strong>, <strong>em</strong><br />
alguns momentos, ludibriar<strong>em</strong> a população se apropriando dos romances lidos e<br />
contando-os como se foss<strong>em</strong> as projeções assisti<strong>da</strong>s por eles na ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mais<br />
próxima.<br />
Repentinamente, como um intruso, o livrinho me falava do <strong>de</strong>spertar do<br />
<strong>de</strong>sejo, dos impulsos, <strong>da</strong>s pulsões, do amor, <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas coisas sobre<br />
as quais jamais ouvira falar. A <strong>de</strong>speito <strong>da</strong> total ignorância sobre esse país<br />
chamado França (já tinha ouvido meu pai falar <strong>de</strong> Napoleão, mais na<strong>da</strong>),<br />
[...] (SIJIE, 2000, p. 50)<br />
Nossos personagens - Luo e o narrador - part<strong>em</strong> <strong>da</strong> escrita (leitura <strong>de</strong><br />
romances) para a orali<strong>da</strong><strong>de</strong>. São os romances que lhes apontam as vivências e<br />
experiências para as sessões <strong>de</strong> histórias <strong>de</strong>stes dois jovens rapazes. Isto é<br />
possível, porque partimos <strong>da</strong> pr<strong>em</strong>issa abor<strong>da</strong><strong>da</strong> no romance, Balzac e a<br />
<strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>, <strong>de</strong> que os textos literários nos ensinam a viver, per<strong>de</strong>r, morrer.<br />
Com a literatura, aprend<strong>em</strong>os a li<strong>da</strong>r com nossas agonias; através <strong>de</strong>la nos<br />
i<strong>de</strong>ntificamos com personagens; imaginamos; viajamos; transportamo-nos para<br />
outras vi<strong>da</strong>s s<strong>em</strong> sair do lugar e mu<strong>da</strong>mos nossas próprias vi<strong>da</strong>s.<br />
[Recopiei o capitulo <strong>em</strong> que Úrsula viaja como uma sonâmbola.<br />
Queria ser como ela: po<strong>de</strong>r dormir na minha cama, ver o que minha<br />
mãe fazia <strong>em</strong> nosso apartamento a quinhentos quilômetros <strong>de</strong><br />
distância, assistir ao jantar <strong>de</strong> meus pais, observar suas atitu<strong>de</strong>s, os<br />
<strong>de</strong>talhes <strong>da</strong> refeição, a cor dos pratos, sentir o cheiro dos alimentos,<br />
39