em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
urguesia continuaria a ter contato com um suposto mundo, s<strong>em</strong> por <strong>em</strong> risco sua<br />
integri<strong>da</strong><strong>de</strong> física e moral, permanecendo <strong>em</strong> sua mora<strong>da</strong>. O romance, portanto, foi<br />
a forma mais simples que a burguesia encontrou para se manter a par <strong>da</strong>s mazelas<br />
sociais que ela mesma havia construído. Para Benjamin, o romance, ao contrário<br />
<strong>da</strong>s narrativas, não se constitui como uma obra aberta. Ele já estabelece<br />
previamente os nomes dos personagens, as tramas existentes e a durabili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
limita<strong>da</strong> pela última página.<br />
Essa nova forma <strong>de</strong> narrativa está liga<strong>da</strong> essencialmente à escrita. Enquanto<br />
sist<strong>em</strong>a s<strong>em</strong>iótico singular, é óbvio que a escrita se diferencia <strong>da</strong> orali<strong>da</strong><strong>de</strong>. Essa<br />
distinção, entretanto, não constitui <strong>em</strong> si um probl<strong>em</strong>a, uma vez que várias <strong>da</strong>s<br />
formas épicas se alimentam <strong>da</strong> tradição oral. Segundo Benjamin, o que distingue o<br />
romance <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as outras formas <strong>de</strong> prosa – contos <strong>de</strong> fa<strong>da</strong>, len<strong>da</strong>s e mesmo<br />
novelas – é que ele n<strong>em</strong> proce<strong>de</strong> <strong>da</strong> tradição oral, n<strong>em</strong> a alimenta.<br />
Pod<strong>em</strong>os afirmar, apropriando-nos <strong>da</strong>s i<strong>de</strong>ias <strong>de</strong> Walter Benjamin, que<br />
nossos dois jovens narradores seriam como o marinheiro comerciante já citado<br />
anteriormente que, ao pisar <strong>em</strong> outras terras, absorve outras culturas e as transfere<br />
para seus ouvintes, já <strong>em</strong> sua terra <strong>de</strong> orig<strong>em</strong>. Ao ler<strong>em</strong> os textos literários, Luo e o<br />
narrador <strong>de</strong>sconstro<strong>em</strong> os textos lidos e os transformam <strong>em</strong> experiências para todos<br />
aqueles al<strong>de</strong>ões que participavam <strong>da</strong>s sessões <strong>de</strong> narração. Até mesmo o cin<strong>em</strong>a,<br />
símbolo <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> e civilização <strong>de</strong>sconhecido por muitos al<strong>de</strong>ões, per<strong>de</strong> a<br />
preferência para os contadores <strong>de</strong> história. Observ<strong>em</strong>os o comentário feito pela<br />
Costureirinha diante <strong>da</strong> gran<strong>de</strong> tela do cin<strong>em</strong>a: “B<strong>em</strong> no meio <strong>da</strong> sessão, <strong>de</strong>pois <strong>de</strong><br />
meia hora <strong>de</strong> filme, ela virou-se e me sussurrou uma frase que me <strong>de</strong>ixou todo<br />
<strong>de</strong>rretido: _Fica muito mais interessante quando você conta.” (SIJIE, 2000, p. 72)<br />
Ao contrário do marinheiro, que trazia experiências <strong>da</strong>s terras pelas quais<br />
passava, os jovens rapazes traziam novas experiências, mesmo s<strong>em</strong> saír<strong>em</strong> dos<br />
seus lugares e acreditando ter<strong>em</strong> vivenciado tais experiências. Ou seja, eram os<br />
romances que alimentavam a tradição oral. Assim nos mostra o narrador sobre sua<br />
leitura <strong>de</strong> “Úrsula Mirouet” do escritor Balzac 31 :<br />
31 Um dos principais autores do R<strong>ea</strong>lismo na literatura francesa no século XIX. Mesmo tornado-se<br />
num dos maiores nomes do r<strong>ea</strong>lismo na literatura, as suas obras são, no entanto, cunha<strong>da</strong>s sobre a<br />
tradição literária do romantismo francês e a maioria <strong>de</strong> suas obras procura retratar a r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />
burguesa <strong>da</strong> França na sua época.<br />
38