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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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existência, a renovação e a transmissão <strong>da</strong>s histórias. Como afirma Benjamin, até<br />

b<strong>em</strong> pouco t<strong>em</strong>po atrás sabia-se muito b<strong>em</strong> o que era experiência: as pessoas mais<br />

velhas s<strong>em</strong>pre a passavam aos mais jovens. De forma concisa, com a autori<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong><br />

i<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>em</strong> provérbios; ou <strong>de</strong> forma prolixa, com sua loquaci<strong>da</strong><strong>de</strong>, <strong>em</strong> histórias; ou<br />

ain<strong>da</strong> através <strong>de</strong> narrativas <strong>de</strong> países estrangeiros, junto à lareira, diante <strong>de</strong> filhos e<br />

netos. Detona<strong>da</strong> pelo <strong>de</strong>senvolvimento alucinante <strong>da</strong>s forças produtivas, a crise <strong>da</strong><br />

narrativa oral começa a <strong>da</strong>r seus primeiros sinais com o surgimento do romance no<br />

início do período mo<strong>de</strong>rno.<br />

O primeiro indício <strong>da</strong> evolução que vai culminar na morte <strong>da</strong> narrativa é o<br />

surgimento do romance no início do período mo<strong>de</strong>rno. O que separa o<br />

romance <strong>da</strong> narrativa (e <strong>da</strong> epopéia no sentido estrito) é que ele está<br />

essencialmente vinculado ao livro. A difusão do romance só se torna<br />

possível com a invenção <strong>da</strong> imprensa. A tradição oral, patrimônio <strong>da</strong> poesia<br />

épica, t<strong>em</strong> uma natureza fun<strong>da</strong>mentalmente distinta<strong>da</strong> que caracteriza o<br />

romance. O que distingue o romance <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s as formas <strong>de</strong> prosa- é que<br />

ela n<strong>em</strong> proce<strong>de</strong> <strong>da</strong> tradição oral n<strong>em</strong> a alimenta. Ele se distingue,<br />

especialmente, <strong>da</strong> narrativa. O narrador retira <strong>da</strong> experiência o que conta:<br />

sua própria experiência ou relata<strong>da</strong> pelos outros. E incorpora as coisas<br />

narra<strong>da</strong>s à experiência <strong>de</strong> seus ouvintes. O romancista segrega-se. A<br />

orig<strong>em</strong> do romance é o indivíduo isolado, que não po<strong>de</strong> mais falar<br />

ex<strong>em</strong>plarmente sobre suas preocupações mais importantes e que<br />

não recebe conselhos n<strong>em</strong> sabe dá-los. Escrever um romance, significa na<br />

<strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> humana, levar o incomensurável a seus últimos<br />

limites. Na riqueza <strong>de</strong>ssa vi<strong>da</strong> e na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong>ssa riqueza, o romance<br />

anuncia a profun<strong>da</strong> perplexi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> vive. O primeiro gran<strong>de</strong> livro do<br />

gênero, Dom Quixote, mostra como a gran<strong>de</strong>za <strong>da</strong> alma, a corag<strong>em</strong> e a<br />

generosi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> um dos mais nobres heróis <strong>da</strong> literatura são totalmente<br />

refratárias ao conselho e não contêm a menor centelha <strong>de</strong> sabedoria.<br />

(BENJAMIN, 1987, p. 201)<br />

A função social do romance, como indica Benjamin, é a <strong>de</strong> proporcionar ao<br />

leitor a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> conhecer o mundo no interior <strong>de</strong> sua casa, sendo sua<br />

natureza fun<strong>da</strong>mentalmente distinta <strong>da</strong>quela que caracteriza a tradição oral.<br />

Enquanto o contador <strong>de</strong> histórias retira <strong>da</strong> experiência aquilo que narra e incorpora<br />

os fatos narrados à experiência dos ouvintes, o romancista segrega-se. A orig<strong>em</strong> do<br />

romance é o indivíduo isolado, que não po<strong>de</strong> mais falar ex<strong>em</strong>plarmente sobre suas<br />

preocupações mais importantes e que não recebe conselhos n<strong>em</strong> sabe dá-los.<br />

Escrever um romance significa, na <strong>de</strong>scrição <strong>de</strong> uma vi<strong>da</strong> humana, levar o<br />

incomensurável a seus últimos limites.<br />

O gran<strong>de</strong> público dos romances no século XIX era a burguesia europeia, que<br />

via o mundo ao seu redor cercado <strong>de</strong> proletários esfom<strong>ea</strong>dos, mendigos, ladrões,<br />

todo e qualquer sujeito que pu<strong>de</strong>sse causar periculosi<strong>da</strong><strong>de</strong>. Com o romance, a<br />

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