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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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passado; o marinheiro comerciante trazia o saber <strong>da</strong>s terras distantes, e as<br />

histórias narra<strong>da</strong>s iam sendo incorpora<strong>da</strong>s à experiência dos ouvintes. O narrador<br />

era figura <strong>de</strong> <strong>de</strong>staque e valorização na comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>, pelo simples fato <strong>de</strong><br />

conhecer e contar histórias, mitos, mantendo viva a m<strong>em</strong>ória dos povos na arte<br />

<strong>de</strong> narrar.<br />

No texto O Narrador, Walter Benjamin aponta com nostalgia o fim <strong>de</strong>ssa<br />

figura seculariza<strong>da</strong>, o contador <strong>de</strong> histórias. A prática <strong>de</strong> ouvir e contar histórias,<br />

ao redor <strong>da</strong> fogueira, nos jardins, <strong>em</strong> meio às festas familiares, se extinguiu ou,<br />

quando muito, agoniza <strong>em</strong> lugares distantes. Talvez, porque a fonte <strong>da</strong> qual se<br />

alimentava o narrador <strong>de</strong>saparece com a mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> 28 .<br />

As histórias orais, conta<strong>da</strong>s <strong>de</strong> geração <strong>em</strong> geração como forma <strong>de</strong><br />

transmissão <strong>de</strong> experiência, <strong>de</strong> formação <strong>de</strong> valores, são recolhi<strong>da</strong>s <strong>da</strong> tradição.<br />

Elas têm lugar na experiência coletiva, Erfahrung 29 , como diz Benjamin. Isso quer<br />

dizer que a narrativa que se conta foi, provavelmente, vivencia<strong>da</strong> por um ancestral<br />

não muito distante e que as suas aventuras são próximas do universo vivido e<br />

experimentado pelos ouvintes.<br />

[...] Ela não está interessa<strong>da</strong> <strong>em</strong> transmitir o 'puro <strong>em</strong> si' <strong>da</strong> coisa narra<strong>da</strong><br />

como uma informação ou um relatório. Ela mergulha a coisa na vi<strong>da</strong> do<br />

narrador para <strong>em</strong> segui<strong>da</strong> retirá-la <strong>de</strong>le. Assim se imprime na narrativa a<br />

marca do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso. Os narradores<br />

gostam <strong>de</strong> começar sua história com uma <strong>de</strong>scrição <strong>da</strong>s circunstâncias <strong>em</strong><br />

que foram informados dos fatos que vão contar a seguir, a menos que<br />

prefiram atribuir a essa história experiências autobiográfica. (BENJAMIN,<br />

1987, p. 205)<br />

Tais histórias têm, assim, um caráter ex<strong>em</strong>plar para aqueles que as ouv<strong>em</strong>.<br />

Fonte inesgotável <strong>da</strong>s narrativas orais, é a m<strong>em</strong>ória coletiva 30 que permite a<br />

28 A mo<strong>de</strong>rni<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>em</strong> Walter Benjamin seria a evolução dos meios <strong>de</strong> comunicação que implicam<br />

numa nova relação interpessoal, na qual as pessoas passam a não ter mais necessi<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> discutir<br />

sobre um fato ocorrido. Benjamin enfatiza que os meios <strong>de</strong> comunicação mo<strong>de</strong>rnizados já<br />

proporcionam ao leitor as explicações que, por ex<strong>em</strong>plo, tentariam encontrar <strong>em</strong> uma ro<strong>da</strong> narrativa.<br />

Na china rural <strong>de</strong> Mao Tse Tung os meios <strong>de</strong> comunicação não eram compatíveis com o europeu,<br />

tanto por ser uma região erma, quanto pela política do lí<strong>de</strong>r chinês perante a restrição no contato<br />

entre o campo, a ci<strong>da</strong><strong>de</strong> e a relação entre a China e o restante do mundo.<br />

29 Experiência; prática.<br />

30 Para Benjamin, a idéia <strong>de</strong> m<strong>em</strong>ória coletiva diz respeito aos saberes e valores formados pelos<br />

m<strong>em</strong>bros <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> comuni<strong>da</strong><strong>de</strong>. (BENJAMIN, Walter. Infância <strong>em</strong> Berlim - OBRAS<br />

ESCOLHIDAS – IN MAGIA E TÉCNICA – ARTE E POLÍTICA / BRASILIENSE. 3ª EDIÇÃO. SÃO<br />

PAULO, 1987. p. 199)<br />

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