em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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2.1 APROPRIAÇÃO, CRIAÇÃO E NARRAÇÃO<br />
Para Luo e o narrador, os filmes que <strong>de</strong>veriam assistir, projetados na<br />
ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mais próxima <strong>da</strong> al<strong>de</strong>ia, e contar no mesmo dia <strong>de</strong> seu re<strong>torno</strong>,<br />
significavam a dispensa do trabalho duro e braçal. O chefe dos al<strong>de</strong>ões,<br />
encantado com o talento <strong>de</strong> Luo para narrar histórias, <strong>de</strong>clarou que assistir aos<br />
filmes e contar a história aos al<strong>de</strong>ões equivaleria aos dias <strong>de</strong> trabalho no campo.<br />
Desta forma, os filmes assistidos e, mais tar<strong>de</strong>, os livros achados na mala do<br />
amigo “Quatro olhos”, eram narrados para todos os al<strong>de</strong>ões, que não teriam<br />
acesso a esses textos, se não fosse a presença dos jovens narradores.<br />
Além dos textos cin<strong>em</strong>atográficos, os textos literários <strong>de</strong> autores oci<strong>de</strong>ntais<br />
também começaram a fazer parte <strong>da</strong>s narrativas orais. Os contadores <strong>da</strong><br />
Montanha Fênix passavam <strong>de</strong> espectadores e leitores a próprios escritores, pois,<br />
a partir <strong>da</strong> apropriação dos textos, eram soma<strong>da</strong>s as escolhas que compunham<br />
personagens, cenários, tom <strong>de</strong> voz para ca<strong>da</strong> momento <strong>da</strong> história. Segundo<br />
Walter Benjamin, o narrador não t<strong>em</strong> o intuito <strong>de</strong> fazer com que a história narra<strong>da</strong><br />
seja uma obra fecha<strong>da</strong>. Ele ressalta que as histórias <strong>de</strong> qualquer narrador se<br />
propõ<strong>em</strong> a <strong>da</strong>r conselhos e passar ensinamentos.<br />
[...] a natureza <strong>da</strong> ver<strong>da</strong><strong>de</strong>ira narrativa, t<strong>em</strong> s<strong>em</strong>pre <strong>em</strong> si, às<br />
vezes <strong>de</strong> forma latente, uma dimensão utilitária. Essa utili<strong>da</strong><strong>de</strong><br />
po<strong>de</strong> consistir seja num ensinamento moral, seja numa<br />
sugestão prática, seja num provérbio ou numa norma <strong>de</strong>vi<strong>da</strong> –<br />
<strong>de</strong> qualquer maneira, o narrador é um hom<strong>em</strong> que sabe <strong>da</strong>r<br />
conselhos.[...] (BENJAMIN, 1987, p. 200)<br />
Os narradores <strong>da</strong> Montanha Fênix não eram diferentes, pois suas histórias<br />
ganhavam novos con<strong>torno</strong>s e seus ouvintes, acostumados apenas com i<strong>de</strong>ias<br />
revolucionárias sobre patriotismo, comunismo, i<strong>de</strong>ologia e propagan<strong>da</strong>,<br />
repentinamente, ouv<strong>em</strong> histórias que falam do <strong>de</strong>sejo, dos impulsos, <strong>da</strong>s pulsões,<br />
do amor e <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s essas coisas que jamais ouviram falar <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s as suas<br />
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