em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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Em pouco t<strong>em</strong>po, a cortesia e o respeito <strong>de</strong>vidos à mulher, revelados nos<br />
romances <strong>de</strong> Balzac, me transformaram <strong>em</strong> lava<strong>de</strong>ira que lavava roupa<br />
no riacho, mesmo naquele início <strong>de</strong> inverno, quando a Costureirinha<br />
estava cheia <strong>de</strong> encomen<strong>da</strong>s. (SIJIE, 2000, p. 134)<br />
Os costumes e comportamentos tratados nos textos lidos eram novi<strong>da</strong><strong>de</strong>s<br />
para os dois amigos. Eles foram <strong>de</strong>spertados para outros mundos e <strong>de</strong>sejavam<br />
fazer com que outros também o foss<strong>em</strong>. É no contato com a literatura que eles<br />
compreend<strong>em</strong> o mundo <strong>em</strong> que viv<strong>em</strong> e passam a questioná-lo; tomam<br />
consciência do quanto este mundo não mais os satisfaz; e tentam mu<strong>da</strong>r a<br />
r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> no campo social.<br />
Ao pensarmos <strong>em</strong> to<strong>da</strong>s essas r<strong>ea</strong>ções do leitor suscita<strong>da</strong>s diante do texto,<br />
foi preciso, antes <strong>de</strong> tudo, <strong>de</strong>finir alguns conceitos que nos auxiliaram no processo<br />
<strong>de</strong> análise do jogo <strong>de</strong> leituras presente no romance Balzac e a <strong>costureirinha</strong><br />
<strong>chinesa</strong>. Vale aqui ressaltar o pensamento do teórico Roger Chartier que, <strong>em</strong> seus<br />
estudos, enfatiza a distância entre o sentido atribuído pelo autor e por seus leitores.<br />
Para Chartier, o mesmo material escrito e/ou lido não t<strong>em</strong> o mesmo significado para<br />
as diferentes pessoas que <strong>de</strong>le se apropriam.<br />
Antes <strong>de</strong> mais na<strong>da</strong>, <strong>da</strong>r à leitura o estatuto <strong>de</strong> uma prática criadora,<br />
inventiva, produtora, e não anulá-la do texto lido, como se o sentido<br />
<strong>de</strong>sejado por seu autor <strong>de</strong>vesse inscrever-se com to<strong>da</strong> a imediatez e<br />
transparência, s<strong>em</strong> resistência n<strong>em</strong> <strong>de</strong>svio, no espírito <strong>de</strong> seus leitores. Em<br />
segui<strong>da</strong>, pensar que os atos <strong>de</strong> leitura que dão aos textos significações<br />
plurais e móveis situam-se no encontro <strong>de</strong> maneiras <strong>de</strong> ler, coletivas e<br />
individuais, her<strong>da</strong><strong>da</strong>s ou inovadoras, íntimas ou públicas e <strong>de</strong> protocolos <strong>de</strong><br />
leitura <strong>de</strong>positados no objeto lido [...] (CHARTIER, 2004, p.78).<br />
A abor<strong>da</strong>g<strong>em</strong> <strong>em</strong>preendi<strong>da</strong> por Chartier confirma as diferenças e variações<br />
existentes no modo como os leitores se relacionam com o material escrito. Uma só<br />
obra t<strong>em</strong> inúmeras possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> interpretação, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo, entre outras<br />
coisas, do suporte, <strong>da</strong> época e do contexto <strong>em</strong> que circula.<br />
O texto literário nos dá a possibili<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>de</strong> várias leituras, ou seja, ele oferece<br />
uma gama enorme <strong>de</strong> interpretações. Qu<strong>em</strong> escreve está comprometido. A leitura<br />
<strong>de</strong> ca<strong>da</strong> texto está relaciona<strong>da</strong> aos vínculos que se estabelec<strong>em</strong> entre significado e<br />
significante. Somente na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que pod<strong>em</strong>os perceber essa relação é que<br />
compreend<strong>em</strong>os as possibili<strong>da</strong><strong>de</strong>s <strong>de</strong> leituras. Produção e leitura caminham juntas,<br />
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