em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
pela i<strong>de</strong>ologia, contexto sócio-histórico, imaginário e subjetivi<strong>da</strong><strong>de</strong> do próprio leitor.<br />
Diante do texto, o leitor é que <strong>de</strong>ve interagir com eles e transformá-lo, pois:<br />
[...] o objeto literário é um estranho pião, que só existe <strong>em</strong> movimento. Para<br />
fazê-lo surgir é necessário um ato concreto que se chama leitura, e ele só<br />
dura enquanto essa leitura durar. Fora <strong>da</strong>í, há apenas traços negros sobre o<br />
papel. Mas o escritor não consegue ler o que ele escreveu, ao contrário do<br />
sapateiro, que po<strong>de</strong> usar os sapatos que ele fez, se for<strong>em</strong> <strong>de</strong> suas<br />
dimensões, e o arquiteto po<strong>de</strong> morar na casa que ele construiu. Lendo,<br />
prev<strong>em</strong>os, esperamos. Prev<strong>em</strong>os o final <strong>da</strong> frase, a frase seguinte, a próxima<br />
página; esperamos que elas confirm<strong>em</strong> ou que invalid<strong>em</strong> essas previsões; a<br />
leitura é composta <strong>de</strong> muitas hipóteses, sonhos seguidos <strong>de</strong> <strong>de</strong>spertares,<br />
esperanças e <strong>de</strong>cepções; os leitores s<strong>em</strong>pre estão adiantados <strong>em</strong> relação à<br />
frase que le<strong>em</strong>, num futuro apenas provável, que se <strong>de</strong>smonta e se consoli<strong>da</strong><br />
parcialmente à medi<strong>da</strong> que eles progrid<strong>em</strong>; que recua <strong>de</strong> uma página a outra<br />
e forma o horizonte móvel do objeto literário 23 . (SARTRE, 1993, p. 48)<br />
Com a metáfora cria<strong>da</strong> por Sartre, pod<strong>em</strong>os perceber que o leitor também é<br />
um el<strong>em</strong>ento <strong>de</strong> completu<strong>de</strong> <strong>da</strong> obra literária, mostrando o caráter dinâmico do texto.<br />
No momento <strong>de</strong> leitura, a preocupação não é extrair, mas, sim, atribuir significados.<br />
Para Regina Zilberman (2001, p.54), “A experiência <strong>da</strong> leitura po<strong>de</strong> liberá-lo [o<br />
leitor] <strong>de</strong> a<strong>da</strong>ptações, prejuízos e apertos <strong>de</strong> sua vi<strong>da</strong> prática, obrigando-o a uma<br />
nova percepção <strong>da</strong>s coisas”. Segundo Jauss:<br />
[...] a relação entre literatura e leitor po<strong>de</strong> atualizar-se tanto no terreno<br />
sensorial como estímulo à percepção estética, como também no terreno<br />
ético enquanto exortação à reflexão moral. A nova obra literária é acolhi<strong>da</strong><br />
e julga<strong>da</strong> tanto contra o background <strong>da</strong> experiência <strong>de</strong> outras formas<br />
artísticas, como ante o background <strong>da</strong> experiência cotidiana <strong>da</strong> vi<strong>da</strong>.<br />
(JAUSS, 1979, p.203)<br />
É a leitura que r<strong>ea</strong>liza <strong>de</strong> forma mais completa o processo transformador e<br />
liberador, sendo essa a função primordial dos textos literários. “[...] se assim é,<br />
então a literatura po<strong>de</strong> levar o leitor a uma nova percepção <strong>de</strong> seu universo.”<br />
(ZILBERMAN, 1989, p. 38) Os filmes chineses, norte-cor<strong>ea</strong>nos, ou até albaneses,<br />
23 [...] l’objet littéraire est une étrange toupie, qui n’existe qu’en mouv<strong>em</strong>ent. Pour la faire surgir, il faut<br />
un acte concret qui s’appelle la lecture, et elle ne dure qu’autant que cette lecture peut durer. Hors <strong>de</strong><br />
là, il n’y a que <strong>de</strong>s tracés noirs sur le papier. Or l’écrivain ne peut pas lire ce qu’il écrit, au lieu que le<br />
cordonnier peut chausser les souliers qu’il vient <strong>de</strong> faire, s’ils sont à sa pointure, et l’architecte habiter<br />
la maison qu’il a construite. En lisant, on prévoit, on attend. On prévoit la fin <strong>de</strong> la phrase, la phrase<br />
suivante, la page d’après ; on attend qu’elles confirment ou qu’elles infirment ces prévisions ; la<br />
lecture se compose d’une foule d’hypothèses, <strong>de</strong> rêves suivis <strong>de</strong> réveils, d’espoirs et <strong>de</strong> déceptions ;<br />
les lecteurs sont toujours en avance sur la phrase qu’ils lisent, <strong>da</strong>ns un avenir seul<strong>em</strong>ent probable qui<br />
s’écrouleen partie et se consoli<strong>de</strong> en partie à mesure qu’ils progressent, qui recule d’une page à<br />
l’autre et forme l’horizon mouvant <strong>de</strong> l’objet littéraire. (A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.)<br />
29