16.04.2013 Views

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Costureirinha só foi observa<strong>da</strong> após sua parti<strong>da</strong>. Luo ain<strong>da</strong> conseguiu lhe dizer<br />

algumas palavras, mas não foi o suficiente para convencê-la a ficar. As lições e<br />

ensinamentos balzaquianos foram mais fortes e a fizeram ir <strong>em</strong>bora, <strong>de</strong>saparecendo<br />

como um pássaro quando alça voo.<br />

No romance analisado, a <strong>de</strong>scoberta <strong>da</strong> valise e dos livros oci<strong>de</strong>ntais<br />

possuídos por Quatro-olhos faz com que o contato com o pensamento <strong>de</strong> outros<br />

aconteça, primeiro, pela leitura do romance Úrsula Mirouet, do escritor francês<br />

Balzac. Ao ler a trama vivi<strong>da</strong> pela personag<strong>em</strong> Úrsula, o narrador vivenciava aquelas<br />

experiências <strong>de</strong> outros e <strong>de</strong>sejava estar no lugar <strong>da</strong> personag<strong>em</strong>. Durante o ato <strong>de</strong><br />

leitura, fazia planos <strong>em</strong> sua vi<strong>da</strong> se inspirando na história li<strong>da</strong>.<br />

Iser acredita na transformação do leitor através <strong>de</strong> ca<strong>da</strong> leitura, pelo fato<br />

<strong>de</strong>ste ser convi<strong>da</strong>do a observar e <strong>de</strong>scobrir, durante o ato <strong>de</strong> ler, os confrontos e<br />

diferenças entre o mundo r<strong>ea</strong>l, vivido por ele – o leitor – e o mundo presente nos<br />

textos literários. “[...] o mundo literário parece fantástico porque contradiz nossa<br />

experiência, ou parece trivial porque simplesmente correspon<strong>de</strong> a ela. (Iser, 1999, p.<br />

8) De qualquer forma, com a contradição ou a correspondência <strong>em</strong> relação à vi<strong>da</strong><br />

r<strong>ea</strong>l, o leitor, mesmo que o texto seja muito diferente do seu próprio cotidiano, verse-á<br />

convi<strong>da</strong>do a refletir sobre o já conhecido por ele e a incorporar novas<br />

experiências senti<strong>da</strong>s a partir <strong>da</strong> leitura. Espera-se uma mu<strong>da</strong>nça para algo novo,<br />

num mundo novo que, ao interagir com o mundo já existente e vivido pelo leitor –<br />

regido por regras, limitado, às vezes insatisfatório por não preencher as suas<br />

necessi<strong>da</strong><strong>de</strong>s existenciais –, enriquece-o com experiências inéditas que por vezes<br />

indica-lhe que po<strong>de</strong> ser diferente e melhor.<br />

Essa mu<strong>da</strong>nça <strong>da</strong> qual nos fala Iser é b<strong>em</strong> retrata<strong>da</strong> <strong>em</strong> todos os<br />

personagens: Luo, o narrador, a Costureirinha, o velho alfaiate e todos os outros<br />

al<strong>de</strong>ões <strong>da</strong> montanha Fênix. Ao ler<strong>em</strong> o romance Úrsula Mirouet, os dois jovens<br />

amigos afirmam que seus olhos foram abertos. Para a Costureirinha: “Esse velho<br />

Balzac – continuou – é um ver<strong>da</strong><strong>de</strong>iro bruxo que pousou as mãos invisíveis sobre a<br />

cabeça <strong>de</strong>ssa menina. Ela estava metamorfos<strong>ea</strong><strong>da</strong>, sonhadora.” (SIJIE. 2000, p.<br />

53.)<br />

A tarefa atribuí<strong>da</strong> a Balzac não passa <strong>de</strong> uma ativi<strong>da</strong><strong>de</strong> liga<strong>da</strong> ao próprio ato<br />

<strong>de</strong> ler, vincula<strong>da</strong> ao papel do leitor como produtor <strong>de</strong> sentidos. O ato <strong>de</strong> leitura se<br />

constitui na interação entre dois pólos: texto – leitor, além <strong>da</strong>s interferências sofri<strong>da</strong>s<br />

28

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!