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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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A preferência <strong>da</strong> Costureirinha era por Luo, o contador <strong>de</strong> histórias. Mas, seu<br />

amigo, o narrador, também nutria um gran<strong>de</strong> carinho e paixão por ela e se mantinha<br />

como cúmplice <strong>da</strong>s aventuras amorosas entre ela e Luo. Entretanto, o amigo<br />

continuava a afirmar que a jov<strong>em</strong> não era “civiliza<strong>da</strong> 17 ” o suficiente, pelo menos para<br />

ele. Mesmo não tão “civiliza<strong>da</strong>”, Costureirinha ganhou o coração dos moços e a<br />

amiza<strong>de</strong> <strong>de</strong>les.<br />

Os três se viam periodicamente. Foi Costureirinha qu<strong>em</strong> os salvou <strong>de</strong> alguns<br />

dias <strong>de</strong> trabalho arriscado na mina <strong>de</strong> carvão, com seu pedido feito ao chefe para<br />

que os liberass<strong>em</strong> para contar histórias <strong>em</strong> sua al<strong>de</strong>ia. Com os riscos que passavam<br />

com o trabalho na mina, o pedido <strong>da</strong> <strong>costureirinha</strong> era sinônimo <strong>de</strong> alguns dias <strong>de</strong><br />

<strong>de</strong>scanso.<br />

Um dos melhores momentos na vi<strong>da</strong> <strong>de</strong>sses três jovens é quando <strong>de</strong>scobr<strong>em</strong><br />

que um outro menino, chamado <strong>de</strong> Quatro-olhos, que também estava <strong>em</strong> processo<br />

<strong>de</strong> reeducação, guar<strong>da</strong> um gran<strong>de</strong> segredo: ele possui uma valise cheia <strong>de</strong> livros<br />

“proibidos” 18 . Quatro-olhos tinha <strong>de</strong>zoito anos <strong>de</strong> i<strong>da</strong><strong>de</strong> e era filho <strong>de</strong> um escritor e<br />

<strong>de</strong> uma poetisa, que também foram punidos pelas autori<strong>da</strong><strong>de</strong>s, assim como os pais<br />

<strong>de</strong> Luo e do narrador. O jov<strong>em</strong> negava até a morte a existência <strong>de</strong> tais livros, porém,<br />

com a per<strong>da</strong> <strong>de</strong> seus óculos durante o trabalho no arrozal, aceita a proposta <strong>de</strong><br />

<strong>em</strong>prestar alguns livros <strong>em</strong> troca <strong>da</strong> r<strong>ea</strong>lização <strong>de</strong> trabalhos no campo. Ele paga os<br />

trabalhos feitos por Luo e o narrador com “Úrsula Mirouet”, uma obra <strong>de</strong> Honoré <strong>de</strong><br />

Balzac 19 .<br />

Este foi o primeiro contato dos jovens com um livro oci<strong>de</strong>ntal. Pouco tinham<br />

ouvido falar <strong>de</strong>ssas obras. Possuíam mais contato com livros técnicos <strong>de</strong> medicina.<br />

O narrador até conhecia um pouco mais, pois antes <strong>da</strong> Revolução Cultural, sua tia,<br />

possuidora <strong>de</strong> alguns livros estrangeiros traduzidos <strong>em</strong> chinês, tinha lido para ele a<br />

história <strong>de</strong> Dom Quixote 20 . O jov<strong>em</strong> sabia que jamais po<strong>de</strong>ria ler os livros <strong>da</strong> tia,<br />

porque todos foram confiscados e queimados <strong>em</strong> público pelos Guar<strong>da</strong>s Vermelhos.<br />

17 O conceito <strong>de</strong> civilização aqui utilizado é <strong>de</strong>fendido por Kalina Silva e Maciel Silva como o domínio<br />

<strong>da</strong> escrita, e o fato <strong>de</strong> <strong>de</strong>ter a urbani<strong>da</strong><strong>de</strong>. (SILVA, Kalina & SILVA, Maciel. Dicionário <strong>de</strong> conceitos<br />

históricos; Ed. Contexto, São Paulo, 2006. p.59.)<br />

18 No caso do Quatro Olhos eram somente romances <strong>de</strong> escritores oci<strong>de</strong>ntais.<br />

19 Um dos principais autores do R<strong>ea</strong>lismo na literatura francesa no século XIX. Mesmo tornado-se<br />

num dos maiores nomes do r<strong>ea</strong>lismo na literatura, as suas obras são, no entanto, cunha<strong>da</strong>s sobre a<br />

tradição literária do romantismo francês e a maioria <strong>de</strong> suas obras procura retratar a r<strong>ea</strong>li<strong>da</strong><strong>de</strong> <strong>da</strong> vi<strong>da</strong><br />

burguesa <strong>da</strong> França na sua época.<br />

20 Dom Quixote <strong>de</strong> La Mancha é um livro do escritor espanhol Miguel <strong>de</strong> Cervantes y Saavedra (1547-<br />

1616). O livro surgiu <strong>em</strong> um período <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> inovação e diversi<strong>da</strong><strong>de</strong> por parte dos escritores<br />

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