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em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

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ser consultado por todos. O chefe ia to<strong>da</strong> manhã à casa <strong>de</strong> Luo e o narrador para<br />

ouvir o alarme do <strong>de</strong>spertador que soava doc<strong>em</strong>ente, <strong>da</strong>ndo o sinal <strong>de</strong> parti<strong>da</strong> para<br />

o início do trabalho nos campos:<br />

_Está na hora! Vocês ouviram? – gritava ritualmente para as casas<br />

construí<strong>da</strong>s <strong>em</strong> volta.<br />

_Está na hora <strong>de</strong> <strong>da</strong>r duro, bando <strong>de</strong> molengas! O que estão esperando,<br />

seus filhos <strong>de</strong> uma égua!... (SIJIE, 2000, p. 15)<br />

To<strong>da</strong>s as manhãs o chefe cumpria com o mesmo ritual, até que, cansados<br />

dos gritos e dos trabalhos forçados, Luo e o narrador resolv<strong>em</strong> atrasar o relógio <strong>em</strong><br />

uma hora. Isso passou a ser um hábito; às vezes, ao invés <strong>de</strong> atrasar<strong>em</strong> as horas,<br />

os dois amigos resolviam adiantá-las com a intenção do dia terminar mais cedo.<br />

Depois <strong>de</strong> tanto mexer nos ponteiros, eles mesmos já se confundiam e não tinham<br />

mais o controle <strong>de</strong> que horas eram r<strong>ea</strong>lmente.<br />

Mesmo com todo o esforço, principalmente braçal, os rapazes por vezes<br />

conseguiam escapar do trabalho, <strong>de</strong>vido ao talento <strong>de</strong> Luo para narrar aos al<strong>de</strong>ões<br />

montanheses as histórias dos filmes que assistia quando era enviado à ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mais<br />

próxima pelo chefe do camposinato. Por sua vez, o narrador era violinista, o que fez<br />

com que ele sofresse preconceito do chefe do grupo, pois seu instrumento musical<br />

era consi<strong>de</strong>rado como um dos símbolos <strong>da</strong> burguesia r<strong>ea</strong>cionária, o que causou<br />

<strong>de</strong>sconforto e reprovação perante os d<strong>em</strong>ais habitantes <strong>da</strong> al<strong>de</strong>ia comunista.<br />

Luo tinha a astúcia necessária para garantir a sobrevivência nas montanhas.<br />

Encantado pelo po<strong>de</strong>r narrativo do jov<strong>em</strong>, o chefe dos camponeses <strong>de</strong>termina que<br />

como forma principal <strong>de</strong> trabalho ele esteja presente às eventuais sessões do<br />

cin<strong>em</strong>a <strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong> mais próxima, com o intuito <strong>de</strong> assistir às produções oficiais e<br />

repassá-las aos al<strong>de</strong>ões.<br />

A Fênix Celestial era composta <strong>de</strong> aproxima<strong>da</strong>mente vinte al<strong>de</strong>ias<br />

dispersas nos m<strong>ea</strong>ndros <strong>de</strong> uma única vere<strong>da</strong> ou escondi<strong>da</strong>s nos vales<br />

sombrios. Em regra, ca<strong>da</strong> al<strong>de</strong>ia acolhia cinco ou seis jovens provenientes<br />

<strong>da</strong> ci<strong>da</strong><strong>de</strong>. A nossa, entretanto, pendura<strong>da</strong> no topo <strong>da</strong> montanha, e a mais<br />

pobre <strong>de</strong> to<strong>da</strong>s, só podia assumir dois: Luo e eu. A montanha Fênix<br />

Celestial ficava tão afasta<strong>da</strong> <strong>da</strong> civilização que a maioria <strong>da</strong>s pessoas<br />

nunca havia visto um filme sequer <strong>em</strong> suas vi<strong>da</strong>s, n<strong>em</strong> sabia o que era<br />

cin<strong>em</strong>a. (SIJIE, 2000, p. 18 - 19)<br />

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