16.04.2013 Views

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

110<br />

Ler significa reler e compreen<strong>de</strong>r, interpretar. Ca<strong>da</strong> um lê com os olhos que<br />

t<strong>em</strong>. E interpreta a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os pés pisam. Todo ponto <strong>de</strong> vista é a<br />

vista <strong>de</strong> um ponto. Para enten<strong>de</strong>r como alguém lê, é necessário saber<br />

como são seus olhos e qual é sua visão <strong>de</strong> mundo. Isso faz <strong>da</strong> leitura<br />

s<strong>em</strong>pre uma releitura. A cabeça pensa a partir <strong>de</strong> on<strong>de</strong> os pés pisam. Para<br />

compreen<strong>de</strong>r é essencial conhecer o lugar social <strong>de</strong> qu<strong>em</strong> olha. Vale dizer:<br />

como alguém vive, com qu<strong>em</strong> convive, que experiência t<strong>em</strong>, <strong>em</strong> que<br />

trabalha, que <strong>de</strong>sejos alimenta, como assume os dramas <strong>da</strong> vi<strong>da</strong> e <strong>da</strong><br />

morte e que esperanças o animam. Isso faz <strong>da</strong> compreensão s<strong>em</strong>pre uma<br />

interpretação. Sendo assim, fica evi<strong>de</strong>nte que ca<strong>da</strong> leitor é co-autor.<br />

Porque ca<strong>da</strong> um lê e relê com os olhos que t<strong>em</strong>. Porque compreen<strong>de</strong> e<br />

interpreta a partir do mundo que habita. (BOFF, 2000, p. 9)<br />

Boff coloca a leitura como fenômeno social, on<strong>de</strong> o sujeito leitor interpreta<br />

com os olhos que t<strong>em</strong>, a partir <strong>de</strong> uma <strong>de</strong>termina<strong>da</strong> perspectiva e <strong>de</strong> sua<br />

experiência pessoal. Nesse sentido, a leitura ganha um caráter individual e singular.<br />

Observamos que tanto na experiência com o texto impresso quanto com o<br />

texto áudio-visual, exist<strong>em</strong> apelos que d<strong>em</strong>an<strong>da</strong>m a participação do receptor. Os<br />

anseios do autor estão implícitos no texto e se entrecruzam com os do receptor.<br />

Somente na cooperação e interação entre eles é que se dá a interpretação e<br />

significação do texto, ocorrendo a efetiva produção <strong>de</strong> efeitos estéticos no receptor.<br />

Mas, o que não pod<strong>em</strong>os <strong>de</strong>ixar <strong>de</strong> apontar é o fato do texto literário ain<strong>da</strong><br />

fazer com que esse mesmo receptor participe muito mais <strong>da</strong> construção <strong>da</strong> obra do<br />

que ocorre no cin<strong>em</strong>a. Pod<strong>em</strong>os ex<strong>em</strong>plificar tal afirmação com uma análise <strong>da</strong><br />

última cena do romance Balzac e a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong> e do filme homônimo. Em<br />

ambos os textos, t<strong>em</strong>os a confirmação <strong>da</strong> Costureirinha <strong>de</strong> que Balzac a<br />

transformou.<br />

No filme, a cena prossegue com o reencontro dos dois amigos reeducados, o<br />

sentimento <strong>de</strong> nostalgia e o rumo que ca<strong>da</strong> um seguiu <strong>em</strong> suas vi<strong>da</strong>s. Chegamos ao<br />

final satisfeitos, s<strong>em</strong> a inquietação <strong>de</strong> imaginarmos, encaixarmos as peças <strong>de</strong> um<br />

jogo para <strong>de</strong>sven<strong>da</strong>rmos o que aconteceu.<br />

Já no romance, o narrador <strong>de</strong>screve os momentos finais <strong>em</strong> contato com a<br />

Costureirinha: “Meu primeiro grito a fez correr pelo caminho, meu segundo a impeliu<br />

ain<strong>da</strong> mais longe, e meu terceiro a transformou <strong>em</strong> pássaro que alçou voo s<strong>em</strong> se<br />

<strong>da</strong>r um minuto <strong>de</strong> trégua. Então, foi ficando ca<strong>da</strong> vez menor e <strong>de</strong>sapareceu.” (SIJIE,<br />

2000, p. 164) O romance termina com a seguinte fala: “_Ela me disse que Balzac fez<br />

com que compreen<strong>de</strong>sse uma coisa: a beleza <strong>de</strong> uma mulher é um tesouro que não<br />

t<strong>em</strong> preço.” (SIJIE, 2000, p. 164).

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!