16.04.2013 Views

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...

SHOW MORE
SHOW LESS

Create successful ePaper yourself

Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.

acreditamos ser possível estabelecer uma correlação entre cin<strong>em</strong>a e literatura.<br />

Ambos necessitam receptor para que tenham existência. S<strong>em</strong> a presença <strong>de</strong>ste e<br />

s<strong>em</strong> o texto se manifestar <strong>em</strong> sua consciência, o mesmo passa a ser um na<strong>da</strong>. Para<br />

que a obra ganhe vi<strong>da</strong> é necessário, como afirma Iser (1985, p. 72), “[...] que o leitor<br />

se instale forçosamente no texto ou no mundo do texto 127 ”, assumindo, <strong>de</strong> acordo<br />

com Mello (2001, p. 338), o papel <strong>de</strong> “receptor, discriminador e <strong>de</strong> co-produtor 128 ”.<br />

É esse leitor que t<strong>em</strong>os na personag<strong>em</strong> <strong>da</strong> <strong>costureirinha</strong> e que pod<strong>em</strong>os<br />

esten<strong>de</strong>r ao próprio escritor Dai Sijie. A primeira parece-nos chegar ao final do livro<br />

ao avesso, pois são imensas as transformações pelas quais passou após manter<br />

contato com os livros “proibidos”. As histórias que habitavam livros oci<strong>de</strong>ntais e que<br />

eram narra<strong>da</strong>s por Luo ou por Ma fluíam na leitura <strong>da</strong> Costureirinha para além dos<br />

limites <strong>da</strong> página, sofrendo seleção, combinação ou associação com um mundo já<br />

conhecido e que <strong>de</strong>veria ser modificado, direcionando-nos para uma concepção <strong>de</strong><br />

leitura, segundo Manguel (1997, p. 54): “Ler, então, não é um processo automático<br />

<strong>de</strong> capturar um texto como um papel fotossensível captura a luz, mas um processo<br />

<strong>de</strong> reconstrução <strong>de</strong>sconcertante, labiríntico, comum e, contudo, pessoal.”<br />

Nesse sentido <strong>de</strong> leitura, abor<strong>da</strong>mos o posicionamento do autor Dai Sijie,<br />

inicialmente como escritor do romance. Em segui<strong>da</strong>, como receptor do próprio texto,<br />

on<strong>de</strong> experimenta a <strong>de</strong>sconcertante tarefa <strong>de</strong> leitor ativo, que numa interação com o<br />

texto necessita preencher os vazios, completando-os com <strong>de</strong>sejo, experiência,<br />

questionamentos, r<strong>em</strong>orso, gostos e i<strong>de</strong>ologias do próprio receptor. Assim, Dai Sijie,<br />

agora leitor, se torna também co-produtor, relendo o romance Balzac e a<br />

<strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong> no cin<strong>em</strong>a, constituindo um novo texto, inserindo novas<br />

perspectivas sobre o mundo.<br />

E, finalmente, quando t<strong>em</strong>os contato com os dois textos, o literário e o<br />

cin<strong>em</strong>atográfico, perceb<strong>em</strong>os que exist<strong>em</strong> muitos pontos <strong>de</strong> contato entre eles, mas<br />

nós, receptores, também inserimos <strong>em</strong> nossas leituras outras influências – sociais,<br />

culturais, situacionais – recriando aquele texto, pois como explica Boff, o leitor t<strong>em</strong><br />

alguns passos a percorrer durante o ato <strong>de</strong> ler.<br />

127 “[...] le lecteur s’installe forcément <strong>da</strong>ns le texte ou <strong>da</strong>ns le mon<strong>de</strong> du texte” (ISER, 1985,p. 72)<br />

A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

128 Cf. Epígrafe no início <strong>de</strong>ste capítulo. A tradução é <strong>de</strong> minha responsabili<strong>da</strong><strong>de</strong>.<br />

109

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!