em torno de balzac ea costureirinha chinesa - Repositório da ...
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O personag<strong>em</strong> Ma mostra ter consciência do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong> transformação que a<br />
leitura t<strong>em</strong>. Na leitura atenta, o leitor age como um co-criador do texto na medi<strong>da</strong> <strong>em</strong><br />
que supre a porção que não está escrita, mas apenas implícita, <strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ndo a forma<br />
<strong>de</strong> recepção tanto do leitor quanto do texto, sendo o processo <strong>de</strong> leitura inviável,<br />
s<strong>em</strong> a interação dinâmica <strong>de</strong> ambos.<br />
A interpretação consiste, então, no produto <strong>de</strong>sta interação entre texto e leitor,<br />
sendo impossível, <strong>de</strong> acordo com a concepção <strong>de</strong> Iser, se <strong>da</strong>r a partir <strong>de</strong> um <strong>de</strong>stes<br />
el<strong>em</strong>entos isolados. Neste aspecto, a função do leitor é a <strong>de</strong> preencher o que está<br />
implícito na estrutura <strong>da</strong> obra, tendo papel <strong>de</strong> relevância na sua concretização na<br />
medi<strong>da</strong> <strong>em</strong> que este é convocado a participar no processo criativo do texto como<br />
<strong>de</strong>codificador dos signos que são os <strong>de</strong>tentores dos correlatos.<br />
Essa participação do leitor na concretização <strong>da</strong> obra literária requer o<br />
acionamento <strong>de</strong> seu imaginário. Assim, entend<strong>em</strong>os que ca<strong>da</strong> leitor irá preencher as<br />
porções não escritas do texto, suas lacunas e in<strong>de</strong>terminações, <strong>de</strong> modo particular,<br />
uma vez que o repertório <strong>de</strong>ste imaginário é único.<br />
Para comprovar que o texto é ativado e colocado <strong>em</strong> movimento pelo leitor,<br />
ir<strong>em</strong>os nos apoiar numa análise <strong>da</strong> última seqüência do romance e do filme Balzac e<br />
a <strong>costureirinha</strong> <strong>chinesa</strong>. Após <strong>de</strong>scobrir<strong>em</strong> a valise com os livros proibidos, Luo tinha<br />
um único objetivo: “_Com estes livros, vou transformar a Costureirinha. Ela nunca<br />
mais será uma simples montanhesa.” Assim como o avô <strong>da</strong> jov<strong>em</strong>, que t<strong>em</strong>ia por ela<br />
entrar <strong>em</strong> contato com os livros, Luo também sabia do que os livros eram capazes.<br />
Sabia que ler histórias para ela po<strong>de</strong>ria torná-la uma jov<strong>em</strong> educa<strong>da</strong> e sofistica<strong>da</strong>,<br />
acabaria com to<strong>da</strong> a ignorância que reinava nos al<strong>de</strong>ões <strong>da</strong> montanha Fênix. Porém,<br />
algo lhe escapa do controle. A mu<strong>da</strong>nça vai do corte <strong>de</strong> cabelo ao calçado. A jov<strong>em</strong><br />
que antes era <strong>de</strong>scrita como:<br />
103<br />
A princesa <strong>da</strong> montanha <strong>da</strong> Fênix Celestial usava sapatos <strong>de</strong> lona rosaclaro,<br />
ao mesmo t<strong>em</strong>po flexíveis e resistentes, sob os quais podíamos<br />
acompanhar os movimentos dos <strong>de</strong>dos, to<strong>da</strong>s as vezes que ele acionava o<br />
pe<strong>da</strong>l <strong>da</strong> máquina <strong>de</strong> costura.(...) Uma trança grossa, <strong>de</strong> três ou quatro<br />
centímetros <strong>de</strong> diâmetro, começava <strong>da</strong> nuca, <strong>de</strong>scia-lhe pelas costas,<br />
ultrapassava os rins e terminava presa por um laço <strong>de</strong> cetim(...) (SIJIE,<br />
2000, p. 21)