Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
trabalhos por encomenda, foram, <strong>de</strong> acordo com Umberto Eco, essenciais para que: “[...]<br />
a não imitação da natureza” fosse tolerada. (ECO, 2010, p. 186).<br />
No que diz respeito à representação dos personagens, as mulheres das obras<br />
renascentistas, usam a arte da cosmética, “[...] com atenção à cabeleira [...]. Seu corpo é<br />
feito para ser exaltado pelos produtos da arte dos ourives [...] sem esquecer, no entanto, <strong>de</strong><br />
cultivar a própria mente”. (ECO, 2010, p. 196). O homem renascentista, por sua vez “[...]<br />
coloca-se no centro do mundo e quer ser representado em toda sua orgulhosa potência.<br />
O homem <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, gordo e maciço, quando não musculoso, porta e ostenta os sinais do<br />
po<strong>de</strong>r que exerce”. (ECO, 2010, p. 200).<br />
Leonardo da Vinci (1989), <strong>de</strong>screve como as mulheres <strong>de</strong>vem ser representadas<br />
na pintura: “Le donne si <strong>de</strong>bbono figurare con atti vergognosi, le gambe insieme strette,<br />
le braccia raccolte insieme, teste basse e piegate in traverso 9 ”. (DA VINCI, 1989, p.<br />
61). Cavalos, cães, falcões, leões, são dominados pelos homens nas representações<br />
do Renascimento. Já os animais que acompanham as mulheres, o coelho, o arminho,<br />
alu<strong>de</strong>m:<br />
209<br />
“[...] à sua docilida<strong>de</strong> e outras vezes à sua impenetrável ambiguida<strong>de</strong>. Todavia,<br />
quando a pintura se liberta do respeito pelo traço e pela iconografia clássicos,<br />
o homem po<strong>de</strong> ser <strong>de</strong>rrubado do cavalo, assumindo ares realistas ou mesmo<br />
francamente popularescos, como no São Paulo <strong>de</strong> Caravaggio”. (ECO, 2010,<br />
p. 205).<br />
A Beleza clássica se dissolve nas formas do Maneirismo e do Barroco e observamos<br />
“[...] outras formas <strong>de</strong> expressão da Beleza: o sonho, o estupor, a inquietu<strong>de</strong>”. (ECO,<br />
2010, p. 212). A perfeição do Renascimento é afetada pelo movimento dinâmico da<br />
cultura o qual atinge as artes, a religião, a socieda<strong>de</strong>. O <strong>de</strong>senvolvimento da ciência e os<br />
progressos do saber <strong>de</strong>slocam o homem do centro do universo para a periferia. O artista<br />
não está imune a estas questões, ele agora pensa sobre a representação da Beleza <strong>de</strong> forma<br />
mais complexa, está inquieto e emotivo. Ernst Gombrich (2009), afirma que a expressão<br />
Barroco “[...] foi empregada pelos críticos <strong>de</strong> um período ulterior que lutavam contra as<br />
tendências seiscentistas e queriam expô-las ao ridículo. “Barroco”, realmente, significa<br />
absurdo ou grotesco”. (GOMBRICH, 2009, p. 387).<br />
Ainda segundo Gombrich (2009), a perfeição po<strong>de</strong> não ser sempre interessante na<br />
arte. “Uma vez familiarizado com ela, <strong>de</strong>ixa <strong>de</strong> causar qualquer excitação estética. Assim,<br />
visava-se agora ao surpreen<strong>de</strong>nte, ao inesperado, ao insólito”. (GOMBRICH, 2009, p.<br />
362). As palavras <strong>de</strong> Leonardo da Vinci anteciparam que os discípulos [jovens alunos<br />
<strong>de</strong> pintura] superariam seus mestres: “Dico ai pittori che mai nessuno <strong>de</strong>ve imitar e la<br />
maniera <strong>de</strong>ll’altro, perchè, sarà <strong>de</strong>tto nipote e non figliuolo <strong>de</strong>lla natura; perchè, essendo<br />
le cose naturali in tanta larga abbondanza, piuttosto si <strong>de</strong>ve ricorrere ad essa natura che ai<br />
maestri, che da quella hanno imparato10”. (DA VINCI, 1989, p. 45).<br />
Dentre os artistas, do final do século XVI, que superaram seus mestres e criaram<br />
novas e inesperadas imagens, está Jacopo Robusti, apelidado <strong>de</strong> Tintoretto. Para Gombrichi<br />
(2009), as obras <strong>de</strong> Tintoretto tinham o objetivo <strong>de</strong> “[...] fazer com que o espectador sentisse<br />
9 “As mulheres se <strong>de</strong>vem representar em atitu<strong>de</strong>s envergonhadas, as pernas apertadas juntas, com os braços<br />
recolhidos juntos, cabeça baixa e curvada para o lado”. (DA VINCI, 1989, p. 61). Tradução minha.<br />
10 “Digo aos pintores que nunca ninguém <strong>de</strong>ve imitar a maneira <strong>de</strong> outro, porque será chamado neto e não<br />
filho da natureza; porque, existindo as coisas naturais em tão gran<strong>de</strong> abundância, <strong>de</strong>ve-se recorrer muito<br />
mais a essa que aos mestres, que <strong>de</strong>la apren<strong>de</strong>ram”. (DA VINCI, 1989, p. 45). Tradução <strong>de</strong> minha autoria.