Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
Cristine Tedesco - XI Encontro Estadual de História – ANPUH-RS
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
55). Artemísia Lomi Gentileschi também seria uma “mulher impossível”?<br />
Ao avaliarmos a obra <strong>de</strong> Artemísia Lomi Gentileschi enten<strong>de</strong>mos que sua linguagem<br />
foi muito além do limite <strong>de</strong> uma representação da violência do <strong>de</strong>svirginamento. Para<br />
Christiansen (2004),<br />
219<br />
Non dovremmo sottovalutare il ruolo <strong>de</strong>lla rabbia nell’opera di Artemisia - non<br />
semplecimente contro Tassi (la sua collera verso di lui implicava un senso di<br />
tradimento che si stese ben oltre lo stupro) ma anche contro suo padre e le<br />
circostanze <strong>de</strong>lla sua vida, sia professionale che privata. (CHRISTIANSEN,<br />
2004, p. 111 apud MAFFEIS, 2011, p. 67). Não <strong>de</strong>vemos subestimar o papel<br />
da raiva na obra <strong>de</strong> Artemísia - não contra Tassi simplesmente (sua raiva em<br />
relação a ele implicava um sentido <strong>de</strong> traição que se esten<strong>de</strong>u muito além do<br />
estupro), mas também contra seu pai e as circunstâncias <strong>de</strong> sua vida, tanto<br />
profissional como privada. (Tradução <strong>de</strong> minha autoria).<br />
A vida <strong>de</strong> Artemísia antes do matrimônio e <strong>de</strong>pois <strong>de</strong> sua ida para Florença foi<br />
muito difícil e, nesse contexto, o <strong>de</strong>svirginamento que sofreu foi como um testemunho do<br />
ambiente familiar <strong>de</strong>gradado, coercitivo e promíscuo. (MAFFEIS, 2011, p. 67). A jovem<br />
órfã <strong>de</strong> mãe, sob tutela da vizinha Tuzia (<strong>de</strong>nunciada por ser cúmplice <strong>de</strong> Tassi), ainda<br />
convivia com as fofocas dos frequentadores da casa Gentileschi. Eles a chamavam: “[...]<br />
“poltrona et putana”, sulle voci che il padre la facesse posare nuda per il piacere <strong>de</strong>gli<br />
amici e tutto il resto. (MAFFEIS, 2011, p. 67). “[...] égua e puta, sobre os rumores <strong>de</strong><br />
que o pai a fizesse posar nua para o prazer dos amigos e tudo mais”. (Tradução Dr. Celso<br />
Bordignon).<br />
Além da violência física do <strong>de</strong>svirginamento perpetuado pelas falsas promessas<br />
<strong>de</strong> casamento, veio a gran<strong>de</strong> humilhação pública do processo, o escândalo, o matrimônio<br />
arranjando entre um homem endividado e seu pai. Nessas condições Artemísia apren<strong>de</strong>u<br />
a pintar. Com raiva.<br />
A menina Artemísia que praticamente nasceu <strong>de</strong>ntro <strong>de</strong> um ateliê <strong>de</strong> pintura se<br />
tornaria a única mulher a seguir Caravaggio, primeira mulher aceita como membro da<br />
Aca<strong>de</strong>mia <strong>de</strong> Desenho <strong>de</strong> Florença, criada por Giorgio Vasari em 1563. A jovem artista<br />
ainda seria responsável pela introdução do caravaggismo em Florença. (AGNATI, 2001,<br />
p. 23). A produção artística barroca seria marcada também por uma artista mulher. Mesmo<br />
silenciada por uma historiografia androcêntria, Artemísia <strong>de</strong>ixou rastros <strong>de</strong> sua técnica, <strong>de</strong><br />
suas composições, <strong>de</strong> sua gran<strong>de</strong>za artística que supera não só o pai, mas muitos outros<br />
artistas <strong>de</strong> seu tempo.<br />
fONTES<br />
BÍBLIA DE JERUSALÉM. São Paulo: Paulus, 2002.<br />
CONTINI, Roberto; PAPI, Giami. (Org.). Artemisia. Roma: Leonardo <strong>de</strong> Luca, 1991.<br />
______________; SOLINAS, Francesco. (Org.). Artemisia Gentileschi. Storia di una