Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
O conceito <strong>de</strong> fundação política em condições seculares recebe um vigoroso<br />
tratamento no pensamento político <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> na obra Sobre a Revolução. É que se a<br />
temática da fundação aflora no ensaio O que é Autorida<strong>de</strong>? conjugada com a idéia <strong>de</strong><br />
tradição e religião, em Sobre a Revolução, o problema <strong>de</strong> instituição <strong>de</strong> uma fundação<br />
política emerge quando esta não po<strong>de</strong> mais se ancorar na religião e na tradição, e que,<br />
portanto, somente po<strong>de</strong> ser conservada através da <strong>de</strong>liberação política. Nesta obra, <strong>Arendt</strong><br />
articula a questão da emergência política das revoluções nas socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas com a<br />
capacida<strong>de</strong> humana <strong>de</strong> iniciar algo novo e <strong>de</strong>, simultaneamente, estabelecer um abrigo para<br />
as potencialida<strong>de</strong>s das ativida<strong>de</strong>s políticas.<br />
Neste ponto é que <strong>Arendt</strong> articula a emergência das revoluções, na análise <strong>de</strong> Sobre<br />
a Revolução, <strong>Arendt</strong> articula o rebentamento das revoluções mo<strong>de</strong>rnas com a perda da<br />
autorida<strong>de</strong> das fundações políticas mo<strong>de</strong>rnas. Para a autora, o objetivo das revoluções é<br />
estabelecer edifícios políticos cujas fundações não po<strong>de</strong>m mais se alicerçar nem na<br />
tradição nem na força <strong>de</strong> hábitos e costumes. Conforme afirma, “as revoluções da época<br />
mo<strong>de</strong>rna parecem gigantescas tentativas <strong>de</strong> reparar essas fundações, <strong>de</strong> renovar o fio<br />
rompido da tradição e <strong>de</strong> restaurar, mediante a fundação <strong>de</strong> novos organismos políticos,<br />
aquilo que durante tantos séculos conferiu aos negócios humanos certa medida <strong>de</strong><br />
dignida<strong>de</strong> e gran<strong>de</strong>za.” 250 Conforme já indicado, com a quebra da autorida<strong>de</strong> na época<br />
mo<strong>de</strong>rna através da secularização e do esgarçamento das tradições, a valida<strong>de</strong> tradicional<br />
da esfera política mo<strong>de</strong>rna entrou em colapso. Com a perda da autorida<strong>de</strong> das fundações<br />
políticas com a secularização, estas na época mo<strong>de</strong>rna são marcadas pela ruína das suas<br />
aucun homme ne serait libre, car la souveraineté, idéal, <strong>de</strong> domination et d’intransigeante autonomie,<br />
contredit la condition même <strong>de</strong> pluralité. Aucun homme ne peut être souverain, car la terre n’est pas habitée<br />
par un homme, mais par les hommes”. CHM, p. 300-301. [Trad. bras. p. 246-247]; “Os Estados Unidos da<br />
América estão entre os poucos países on<strong>de</strong> uma apropriada separação entre liberda<strong>de</strong> e soberania é possível<br />
pelo menos em teoria, enquanto isto não ameaçar as próprias bases da república norte-americana”. Da<br />
Violência, In CR, p. 95-96.<br />
250 O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 185. “ ... não nos ocupamos da história das revoluções como<br />
tal, do seu passado, das suas origens e do rumo do seu <strong>de</strong>senvolvimento. Se quisermos apren<strong>de</strong>r<br />
o que uma revolução é – as suas implicações gerais para o homem como ser político, o seu<br />
significado político para o mundo em que vivemos, o seu papel na história mo<strong>de</strong>rna – teremos <strong>de</strong><br />
nos voltar para aqueles momentos históricos em que a revolução fez o seu aparecimento total,<br />
assumiu uma espécie <strong>de</strong> forma <strong>de</strong>finitiva e começou a fascinar o espírito dos homens,<br />
in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>ntemente dos abusos, cruelda<strong>de</strong>s e privações <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong> que po<strong>de</strong>riam tê-los levados<br />
à rebelião.” p. 42. cf. A. AMIEL, A. <strong>Política</strong> e Acontecimento, p. 97.