Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>pen<strong>de</strong> dos acordos temporários auferidos através da opinião discursiva,<br />
este possui uma pluralida<strong>de</strong> constitutiva on<strong>de</strong> a ilimitação do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>corre da sua<br />
capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> dividir-se estabelecendo novas relações. Nas palavras <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>,<br />
“é possível dividir o po<strong>de</strong>r sem reduzi-lo; e a interação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>res, com seus<br />
controles e equilibrios, po<strong>de</strong>, inclusive, gerar mais po<strong>de</strong>r, pelos menos enquanto a<br />
interação seja dinâmica e não resultado <strong>de</strong> um impasse.” 228 Neste caso, a divisão<br />
do po<strong>de</strong>r se configura através da extensão <strong>de</strong> novas relações para que as<br />
potencialida<strong>de</strong>s da ação e do discurso possam ser mantidas. Nas palavras da<br />
autora,<br />
“O po<strong>de</strong>r po<strong>de</strong> ser travado, e, contudo, ser mantido intacto apenas através do po<strong>de</strong>r, <strong>de</strong><br />
modo que o princípio da separação do po<strong>de</strong>r, não apenas estabelece uma garantia contra a<br />
monopolização do po<strong>de</strong>r por parte do governo, mas estabelece, na realida<strong>de</strong>, uma espécie <strong>de</strong><br />
mecanismo, originado, precisamente, no interior do próprio governo, através do qual um novo<br />
po<strong>de</strong>r é constantemente gerado, sem contudo ser capaz <strong>de</strong> aumentar e <strong>de</strong> se expandir em<br />
<strong>de</strong>trimento <strong>de</strong> outros centro ou fonte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r.” 229<br />
Na sua formulação do conceito <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r, <strong>Arendt</strong> estabelece uma<br />
diferenciação entre po<strong>de</strong>r, força e violência. Para a filósofa, a indiferenciação<br />
terminológica entre estes conceitos testemunha para uma “sur<strong>de</strong>z” quanto à<br />
significação <strong>de</strong> palavras distintas e uma “cegueira” quando ao fato <strong>de</strong><br />
correspon<strong>de</strong>rem a diferentes realida<strong>de</strong>s. A indiferenciação conceitual entre estes<br />
termos expressa na equiparação <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r com domínio ou na confusão entre<br />
po<strong>de</strong>r e violência, testemunha para um dos pressupostos que a autora diagnostica<br />
na sua leitura da tradição <strong>de</strong> pensamento político: a convicção <strong>de</strong> que a realida<strong>de</strong><br />
fundamental do domínio político é “quem domina quem” 230 , a política se<br />
exprimindo na tarefa <strong>de</strong> encontrar a melhor forma <strong>de</strong> governo que assegure o<br />
domínio do homem sobre o homem, em referência ao qual os termos aludidos não<br />
são mais que meras formas para traduzir a dominação que fundamenta a esfera<br />
política. Em recusa ao postulado da tradição que afirma que o po<strong>de</strong>r é manifesto<br />
através da dominação política, se <strong>de</strong>finindo pela instrumentalização das vonta<strong>de</strong>s<br />
228<br />
ARENDT, H. CHM, p. 262. [Trad. bras. p. 214].<br />
229<br />
I<strong>de</strong>m, S.R. p. 149.<br />
230<br />
I<strong>de</strong>m, Da Violência, In CR, p. 122.