Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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16.04.2013 Views

diversidade, pode a realidade do mundo manifestar-se de maneira real e fidedigna.” 216 O espaço público é o espaço transcendental 217 , calcado na liberdade manifesta através da ação e do discurso, e preexiste à própria constituição formal do corpo político 218 . A peculiaridade deste espaço é que ele somente existe na medida em que os homens se reunam através da palavra e da ação. Para Arendt, diferente dos produtos da fabricação que são reificados e sobrevivem à atividade do qual foram originados, a especificidade da esfera pública constituída pela ação e pelo discurso é que ela somente existe potencialmente, conquanto as atividades que a constituem são efetivadas 219 , desaparecendo com a dispersão das relações humanas e com a suspensão das próprias atividades. Esta potencialidade da ação e do discurso de agir conjuntamente conquanto um modo de coexistência é estabelecido entre os homens é o que Arendt chama de poder. “O poder só é efetivado enquanto a palavra e o ato não se divorciam, quando as palavras não são vazias e os atos não são brutais, quando as palavras não são empregadas para velar intenções mas para revelar realidade, e os atos não são usados para violar e destruir, mas para criar relações e novas realidades.” 216 Idem, CHM p. 98. [Trad. bras. p. 67]. E. TASSIN aponta três aspectos na idéia de mundo em Arendt: 1. “le monde est ce à quoi on vient ou ce à quoi on n’est plus. Venir au monde ou n’être plus de ce monde signifient que le monde est un lieu.” 2. “ne doit-on pas tant dire que les êtres vivants sont dans le monde (in the world) que dire qu’ils sont du monde (of the world). (...) le monde enveloppe la pluralité des hommes mais n’est rien en dehors de cette pluralite Qui les fait apparaître les uns aux autres.” 3. “le monde peut être dit une scène (...). La signification politique que prendra cette scène, sous la forme d’un espace public d’apparition lui-même enté sur un espace d’apparence mondain, doit être rapportée à as condition d’apparence la plus générale, par où se marque l’essentielle appartenance du domaine polituqe à l’ordre phénoménal, et donc événementiel, du monde.” La question de l’apparence. In: Colloque Hannah Arendt- Politique et pensée, p. 73-74. 217 A. ENEGRÉN, “ … on peut dire qu’il constitue une dimension ‘transcendantale’qui fixe l’assise et trace les limites de l’interaction politique”. Le pensée politique de Hannah Arendt, p. 50. 218 H. ARENDT, “[ Este espaço ] précède par conséquent toute constitution formelle du domaine public et des formes de gouvernement, c’est-à-dire des diverses formes sous lesquelles le domaine public peut s’organiser.” CHM, p. 259. [Trad. bras. p. 211-211]. 219 Idem, Em razão do poder político ser definido pela sua potencialidade, Arendt retoma as diversas línguas que expressam esta questão. O termo grego “dynamis, o latino potentia e seus derivados modernos (o francês puissance), o alemão Macht (que vem de môgen e môglich, e não de machen), indicam seu caráter de ‘potencialidade’ p. 260. [Trad. bras. p. 212]. Arendt retoma ainda a noção aristotélica de energeia ( ‘actualité’, efetividade), atividades em que seu sentido está no seu próprio desempenho. p. 267 [Trad. Bras. p. 218 ].

220 O poder advém da potencialidade gerada através da ação e do discurso, constituindo-se somente quando se institui um agir em concerto. Neste caso, é importante não confundir o poder com as atividades que o originam. “O que mantém unidas as pessoas depois que passa o momento fugaz da ação (...) e o que elas, por sua vez, mantêm vivo ao permanecerem unidas é o poder. Todo aquele que, por algum motivo, se isola e não participa dessa convivência, renuncia o poder e se torna impotente, por maior que seja a sua força e por mais válidas que sejam suas razões.” 221 Para Arendt, o poder se define através das potencialidades da ação e do discurso mas é somente no “acordo frágil e temporário de muitas vontades e intenções” 222 que ele se manifesta propriamente. Conforme a terminologia da autora, é na “gramática elementar da ação política” 223 que a “sintaxe do poder” 224 pode ser constituída. A coexistência estabelecida entre os homens é condição fundamental para a existência de poder político, e é esta coexistência que garante a presença das potencialidades da ação e do discurso. Além disso, “O esforço de conjunto [do poder] equilibra, com muita eficiência, tanto as diferenças de origem como as de qualidade” 225 , igualando através do artifício político as diferenças naturais possuídas pelos indivíduos associados. Esta igualdade constitutiva do poder, resulta da associação política de homens que se relacionam como cidadãos através da ação e da palavra e não como pessoas particulares 226 . Para a autora, o próprio poder gestado “torna-se a própria fonte de poder para cada pessoa individual que, fora do domínio político constituído, permanece impotente” 227 . Uma vez que o poder político é decorrente das potencialidades e iniciativas da ação, Arendt confere-lhe uma ilimitação que é decorrente exatamente da capacidade da ação de estabelecer novas relações. Seus limites são dados unicamente pelas pessoas que compõe estas relações. De outro lado, dado que o 220 Idem. CHM, p. 259. [Trad. bras. P. 212]. 221 Idem. CHM, p. 260. [Trad. bras. 213] 222 Idem.CHM, p. 260 [Trad. bras. (213] 223 H. ARENDT, S.R, p. 170. 224 Idem, SR, p. 172. 225 Idem, SR, p. 171. 226 Para a discussão da idéia de igualdade e liberdade, cf. SR, p. 30. 227 Idem. SR, p. 168.

220 O po<strong>de</strong>r advém da potencialida<strong>de</strong> gerada através da ação e do discurso,<br />

constituindo-se somente quando se institui um agir em concerto. Neste caso, é<br />

importante não confundir o po<strong>de</strong>r com as ativida<strong>de</strong>s que o originam. “O que<br />

mantém unidas as pessoas <strong>de</strong>pois que passa o momento fugaz da ação (...) e o<br />

que elas, por sua vez, mantêm vivo ao permanecerem unidas é o po<strong>de</strong>r. Todo<br />

aquele que, por algum motivo, se isola e não participa <strong>de</strong>ssa convivência, renuncia<br />

o po<strong>de</strong>r e se torna impotente, por maior que seja a sua força e por mais válidas<br />

que sejam suas razões.” 221 Para <strong>Arendt</strong>, o po<strong>de</strong>r se <strong>de</strong>fine através das<br />

potencialida<strong>de</strong>s da ação e do discurso mas é somente no “acordo frágil e<br />

temporário <strong>de</strong> muitas vonta<strong>de</strong>s e intenções” 222 que ele se manifesta propriamente.<br />

Conforme a terminologia da autora, é na “gramática elementar da ação política” 223<br />

que a “sintaxe do po<strong>de</strong>r” 224 po<strong>de</strong> ser constituída.<br />

A coexistência estabelecida entre os homens é condição fundamental para a<br />

existência <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r político, e é esta coexistência que garante a presença das<br />

potencialida<strong>de</strong>s da ação e do discurso. Além disso, “O esforço <strong>de</strong> conjunto [do<br />

po<strong>de</strong>r] equilibra, com muita eficiência, tanto as diferenças <strong>de</strong> origem como as <strong>de</strong><br />

qualida<strong>de</strong>” 225 , igualando através do artifício político as diferenças naturais<br />

possuídas pelos indivíduos associados. Esta igualda<strong>de</strong> constitutiva do po<strong>de</strong>r,<br />

resulta da associação política <strong>de</strong> homens que se relacionam como cidadãos<br />

através da ação e da palavra e não como pessoas particulares 226 . Para a autora, o<br />

próprio po<strong>de</strong>r gestado “torna-se a própria fonte <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r para cada pessoa<br />

individual que, fora do domínio político constituído, permanece impotente” 227 .<br />

Uma vez que o po<strong>de</strong>r político é <strong>de</strong>corrente das potencialida<strong>de</strong>s e iniciativas<br />

da ação, <strong>Arendt</strong> confere-lhe uma ilimitação que é <strong>de</strong>corrente exatamente da<br />

capacida<strong>de</strong> da ação <strong>de</strong> estabelecer novas relações. Seus limites são dados<br />

unicamente pelas pessoas que compõe estas relações. De outro lado, dado que o<br />

220 I<strong>de</strong>m. CHM, p. 259. [Trad. bras. P. 212].<br />

221 I<strong>de</strong>m. CHM, p. 260. [Trad. bras. 213]<br />

222 I<strong>de</strong>m.CHM, p. 260 [Trad. bras. (213]<br />

223 H. ARENDT, S.R, p. 170.<br />

224 I<strong>de</strong>m, SR, p. 172.<br />

225 I<strong>de</strong>m, SR, p. 171.<br />

226 Para a discussão da idéia <strong>de</strong> igualda<strong>de</strong> e liberda<strong>de</strong>, cf. SR, p. 30.<br />

227 I<strong>de</strong>m. SR, p. 168.

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