Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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discurso. A questão para a autora, é que a revelação do agente, o “quem” que<br />
está implicado na ação e no discurso, não se revela diretamente a si próprio e<br />
nem possibilita conhecer <strong>de</strong> antemão o “quem” que se revela. Se a revelação do<br />
agente somente transparece aos outros, dado que a ação humana está<br />
concernida na interação <strong>de</strong> que faz parte, sua imprevisibilida<strong>de</strong> somente se torna<br />
<strong>de</strong>terminável quando se converte em estória, e isto somente suce<strong>de</strong> quando o<br />
indivíduo finda sua existência. Este fato, para <strong>Arendt</strong>, tem uma significativa<br />
implicação filosófica: “a essência humana – não a natureza humana em geral (que<br />
não existe), nem a soma total <strong>de</strong> qualida<strong>de</strong> e imperfeições do indivíduo, mas a<br />
essência <strong>de</strong> quem ele é – só passa a existir <strong>de</strong>pois que a vida se acaba, <strong>de</strong>ixando<br />
atrás <strong>de</strong> si nada mais que uma história.” 210<br />
Ao retomar este caráter <strong>de</strong> revelação do agente na ação e no discurso,<br />
articulando-o constitutivamente na pluralida<strong>de</strong> em que está enredado; ao<br />
<strong>de</strong>monstrar o caráter espontâneo do agir e a associação dos parceiros<br />
estabelecida através do discurso, <strong>Arendt</strong> afirma que estas ativida<strong>de</strong>s constituem a<br />
própria experiência <strong>de</strong> manifestação da liberda<strong>de</strong> humana. Para a filósofa, a<br />
liberda<strong>de</strong> manifesta na ação e na fala se caracteriza “como o estado do homem<br />
livre, que o capacita a se mover, a se afastar <strong>de</strong> casa, a sair para o mundo e a se<br />
encontrar com outras pessoas em palavras e ações.” 211 Ao ancorar a liberda<strong>de</strong><br />
nas ativida<strong>de</strong>s da ação e do discurso, <strong>Arendt</strong> retoma o conceito <strong>de</strong> liberda<strong>de</strong><br />
<strong>de</strong>svinculando-o da priorida<strong>de</strong> concedida pela filosofia à liberda<strong>de</strong> como um<br />
atributo do pensamento vivenciado no relacionamento do eu consigo próprio; e<br />
também das concepções que colocam a liberda<strong>de</strong> manifesta no arbítrio da<br />
vonta<strong>de</strong> que faculta a escolha entre várias alternativas, procurando enredá-la no<br />
espaço das aparências mundanas estabelecido entre os homens.<br />
Para a autora, o domínio <strong>de</strong> experiências constituído pela ação e o discurso,<br />
fundamentado na aparência e na pluralida<strong>de</strong> 212 , é o que constitui a esfera pública.<br />
210 I<strong>de</strong>m. CHM, p. 249. [Trad. bras. P. 203]<br />
211 H. ARENDT, O que é Liberda<strong>de</strong> ?, In EPF, p. 194.<br />
212 E. TASSIN, “La réflexion d’<strong>Arendt</strong> semble indiquer le point où, abandonnant la perspective<br />
strictement phénoménologique, il faut se risquer à une ‘ontologie’ <strong>de</strong>s événemtns, appelée par la<br />
question <strong>de</strong> l’apparence et commandée par la loi <strong>de</strong> pluralité.” La question <strong>de</strong> l’apparence, In<br />
Coloque <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> – Politique et pensée, p. 73