Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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ação tenham a oportunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir. Na sua analítica da ação, <strong>Arendt</strong> ao tempo<br />
em que enfatiza o caráter <strong>de</strong> revelação do agente no agir e no falar, <strong>de</strong> outro lado,<br />
a autora enfatiza a textura intersubjetiva da qual faz parte a ação, on<strong>de</strong> “se<br />
movimenta sempre entre e em relação a outros seres atuantes,” 206<br />
simultaneamente afetando e sendo afetada pela ação dos outros em que está<br />
relacionada. Que a ação afete e seja afetada, significa que a “reação” que a ação<br />
<strong>de</strong>sperta na “teia” a que está ligada é sempre uma ação que também afeta os<br />
<strong>de</strong>mais indivíduos. “Assim, a ação e a reação jamais se restringem, entre os<br />
homens, a um círculo fechado, e jamais po<strong>de</strong>mos, com segurança, limitá-la a dois<br />
parceiros.” 207<br />
Esta última questão, para <strong>Arendt</strong>, está ligada a um dos pontos singularida<strong>de</strong>s<br />
que <strong>de</strong>finem a produtivida<strong>de</strong> da ação: a sua capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer novas<br />
relações, <strong>de</strong> gerar novas coexistências a partir das iniciativas <strong>de</strong>flagradas e<br />
enunciadas. “A ilimitação da ação nada mais é senão o outro lado <strong>de</strong> sua<br />
tremenda capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> estabelecer relações, isto é, sua produtivida<strong>de</strong><br />
específica.” 208 A esta característica da ação, outra lhe permanece estreitamente<br />
relacionada: o caráter da imprevisibilida<strong>de</strong>. Para <strong>Arendt</strong>, a imprevisibilida<strong>de</strong> da<br />
ação tem dupla origem: “<strong>de</strong>corre ao mesmo tempo da ‘treva do coração humano’,<br />
ou seja, da inconfiabilida<strong>de</strong> fundamental dos homens, que jamais po<strong>de</strong>m garantir<br />
hoje quem serão amanhã, e da impossibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> se prever as conseqüências <strong>de</strong><br />
um ato numa comunida<strong>de</strong> <strong>de</strong> iguais, on<strong>de</strong> todos têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> agir. ” 209<br />
A imprevisibilida<strong>de</strong> da ação se relaciona ao fato da revelação do significado<br />
dos atos só surgir plenamente <strong>de</strong>pois que eles acabaram, uma vez que é somente<br />
após ter transcorrido que o seu inerente caráter <strong>de</strong> iniciativa po<strong>de</strong> se revelar para<br />
o olhar retrospectivo do narrador. Na sua analítica da ação, <strong>Arendt</strong> vincula a<br />
imprevisibilida<strong>de</strong> da ação ao caráter da revelação do agente na ação e no<br />
206 H. ARENDT, CHM, p. 248. [Trad. bras. p. 203]. Para a consi<strong>de</strong>ração <strong>de</strong> uma distinção entre dois<br />
mo<strong>de</strong>los <strong>de</strong> espaço público <strong>de</strong>corrente da apreensão separada entre o aspecto da revelação e da<br />
<strong>de</strong>liberação no espaço público, ver, S. BENHABIBI, Mo<strong>de</strong>ls of Public Space: <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, the<br />
Liberal Tradition, and Jurgen Habermas, In Habermas and the Public Spher, Massachussets,<br />
CALHOUN, Craig. (Ed.), p. 78.<br />
207 I<strong>de</strong>m, CHM, p. 248. [Trad. bras., 203]<br />
208 I<strong>de</strong>m, CHM, p. 250. [Trad. bras., 204]<br />
209 I<strong>de</strong>m, CHM, p. 310. [Trad. bras., 256]