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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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iniciativa porque ele próprio é um início 192 ; o discurso correspon<strong>de</strong> ao fato da pluralida<strong>de</strong>, ao fato do homem<br />

conviver em companhia e <strong>de</strong> distinguir sua i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> anunciando-a na interação entre os homens. 193<br />

Na análise <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>, o discurso tem por objetivo revelar o agente <strong>de</strong> uma ação, aquilo que ele faz,<br />

que já fez e que preten<strong>de</strong> fazer. Através da autoria <strong>de</strong> palavras é que o agente da ação po<strong>de</strong> se revelar, e isto<br />

significa que sem o discurso, a ação ficaria <strong>de</strong>sprovida do seu agente, ou seja, do ator do ato através da autoria<br />

<strong>de</strong> palavras. Para <strong>Arendt</strong>, este traço <strong>de</strong> revelação da ação pelo discurso somente aparece quando as pessoas<br />

estão articuladas umas com as outras. Conforme suas palavras, dado “a tendência intrínseca <strong>de</strong> revelar o<br />

agente juntamente com o ato, a ação requer, para sua plena manifestação, a luz intensa que outrora tinha o<br />

nome <strong>de</strong> glória e que só é possível na esfera pública.” 194<br />

A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> revelada na ação pelo discurso “está indissoluvelmente vinculada ao fluxo vivo da ação<br />

e da fala” 195 , e implica no âmbito da interação humana um “veemente <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> auto-exibição na competição<br />

entre os homens”. Para a autora, a ação e o discurso têm a capacida<strong>de</strong> <strong>de</strong> revelar o agente embora os objetivos<br />

visados pela ação sejam inteiramente objetivos. A i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> manifesta revela, segundo a terminologia<br />

filosófica da autora, o quem alguém é, e não o que o indivíduo é - suas qualida<strong>de</strong>s objetivas universalmente<br />

partilhadas. De acordo com a filósofa, “O único ‘alguém’ que ela revela é o seu herói; e ela é o único meio<br />

pelo qual a manifestação originalmente intangível <strong>de</strong> um ‘quem’ singularmente diferente po<strong>de</strong> tornar-se<br />

tangível ex post facto através da ação e do discurso.” 196 A <strong>de</strong>speito da intangibilida<strong>de</strong> da i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> dos atores<br />

concernidos na ação e no discurso, ela tem uma objetivida<strong>de</strong> que “reinveste e sobreleva” a mediação física e<br />

mundana que estabelece um espaço entre os homens. A interação política é, para <strong>Arendt</strong>, esta “teia” <strong>de</strong><br />

relações humanas que existe on<strong>de</strong> quer que se estabeleça uma relação assentada na ação e na fala.<br />

O imbrincamento das iniciativas da ação no contexto da interação humana<br />

através do discurso, conduz <strong>Arendt</strong> a uma elaborada reflexão sobre o estatuto da<br />

192<br />

Para uma retomada <strong>de</strong>stas questões no contexto do <strong>de</strong>bate contemporâneo sobre bioética, cf.<br />

J. HABERMAS, Proibição <strong>de</strong> instrumentalização, natalida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r ser si mesmo, In O Futuro da<br />

Natureza Humana, p. 74 - 84.<br />

193<br />

H. ARENDT, “Cette pluralité est spécifiquement la condition – non seulement la conditio sine<br />

qua non, mais encore la conditio per quam – <strong>de</strong> toute vie politique”, p. 42 [Trad. bras. p. 15]. O<br />

conceito <strong>de</strong> pluralida<strong>de</strong> humana significa “a le double caractère <strong>de</strong> l’égalité et <strong>de</strong> la distinction. Se<br />

les hommes n’étaient pas égaux, ils ne pourraient se comprendre les uns les autres, ni comprendre<br />

ceux Qui les ont précédés ni préparer l’avenir et prévoir les besoin <strong>de</strong> ceux qui viendront après eux.<br />

Si les hommes n’étaient pas distincts, chaque être humain se distinguant <strong>de</strong> tout autre être présent,<br />

passé ou futur, ils n’auraient besoin ni <strong>de</strong> la parole ni <strong>de</strong> l’action pour se faire comprendre.” p. 231-<br />

232. [Trad. bras. p. 188]. Na obra A Vida do Espírito, <strong>Arendt</strong> sintetiza a questão da pluralida<strong>de</strong><br />

afirmando, “A pluralida<strong>de</strong> é a lei da Terra. Pensar, In VE, p. 17.<br />

194<br />

H. ARENDT, CHM, p. 237. [Trad. bras. p. 193].<br />

195<br />

I<strong>de</strong>m, CHM, p. 245. [Trad. bras. p. 199].<br />

196<br />

I<strong>de</strong>m, CHM, p. 244. [Trad. bras. p. 198-199]. No contexto da distinção entre “O que” e o “Quem”,<br />

<strong>Arendt</strong> retoma a interrogação antropológica em Agostinho. “Voilà ce que savait fort bien saint<br />

Augustin qui passe pour avoir été le premier à soulever en philosophie ce qu’on nomme la question<br />

anthropologique Saint Augustin distingue les questions ‘Qui suis-je ?’ et ‘Que suis-je’ ?, CHM, p.<br />

45. [Trad. bras., p. 18-19].

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