Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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política da experiência da fabricação, equiparando a Autorida<strong>de</strong> dos organismos<br />
políticos com algum gênero <strong>de</strong> Absoluto, etc.<br />
Com efeito, se “a maior parte da filosofia política, <strong>de</strong>s<strong>de</strong> Platão, po<strong>de</strong>ria<br />
facilmente ser interpretada como uma série <strong>de</strong> tentativas <strong>de</strong> encontrar<br />
fundamentos teóricos e meios práticos <strong>de</strong> evitar <strong>de</strong>finitivamente a política” 183 , o<br />
acabamento e a quebra da valida<strong>de</strong> do repertório <strong>de</strong>sta tradição com os eventos<br />
políticos do século XX, exigia a reconsi<strong>de</strong>ração da esfera política a partir <strong>de</strong> suas<br />
bases fenomenológicas próprias. Por esta via, a conceituação da idéia <strong>de</strong> po<strong>de</strong>r<br />
político a partir da experiência da ação e do discurso, a retomada do conceito <strong>de</strong><br />
fundação na república romana e nas revoluções mo<strong>de</strong>rnas e, por fim, a questão<br />
da instituição <strong>de</strong> uma fonte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que legitime a origem do po<strong>de</strong>r e a<br />
positivida<strong>de</strong> das leis, carrega no seu bojo a recusa arendtiana do lugar reservado<br />
ao político na tradição <strong>de</strong> pensamento filosófico oci<strong>de</strong>ntal 184 .<br />
Na sua filosofia, <strong>Arendt</strong> retoma o significado das experiências que<br />
constituem a política, investigando as condições <strong>de</strong> gestação <strong>de</strong> um espaço<br />
político a partir da praxis intersubjetiva da ação e da fala. Para a autora, o po<strong>de</strong>r<br />
materializa o domínio político é legitimado pela esfera pública a partir dos acordos<br />
intersubjetivos provisórios da ação e do discurso. Além <strong>de</strong> fundamentar o po<strong>de</strong>r<br />
político nas ativida<strong>de</strong>s da ação e do discurso, <strong>Arendt</strong> também questiona o modo<br />
como o po<strong>de</strong>r é institucionalizado através do conceito republicano <strong>de</strong> fundação<br />
política. Problema tratado enfaticamente na obra Sobre a Revolução, com o<br />
conceito <strong>de</strong> fundação <strong>Arendt</strong> interroga a questão da institucionalização <strong>de</strong> uma<br />
esfera política assentada no princípio republicano das liberda<strong>de</strong>s positivas da ação<br />
e da fala. Com o tema da fundação, <strong>Arendt</strong> pensa a re<strong>de</strong>nção das potencialida<strong>de</strong>s<br />
da ação e do discurso através da constituição <strong>de</strong> um espaço político assentado na<br />
estabilida<strong>de</strong> e na permanência, cônscia da insuficiência do po<strong>de</strong>r em estabelecer<br />
183 H. ARENDT, CHM, p. 285. [Trad. bras. p. 234]<br />
184 H. ARENDT, “Zoon politikon: como se no homem houvesse algo político que pertencesse à sua<br />
essência – conceito que não proce<strong>de</strong>; o homem é apolítico. A política surge no entre-os-homens;<br />
portanto, totalmente fora dos homens. Por conseguinte, não existe nenhuma substância política<br />
original. A política surge no intra-espaço e se estabelece como relação.” OP, p. 23.