16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

3.0 Po<strong>de</strong>r, Fundação e Lei<br />

Face o advento dos regimes totalitários e a quebra da autorida<strong>de</strong> das<br />

instituições políticas mo<strong>de</strong>rnas, <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> procuraria reconstruir a gênese do<br />

po<strong>de</strong>r e sua materialização em instituições políticas a partir <strong>de</strong> novas bases<br />

conceituais. Tal programa filosófico parte do fato <strong>de</strong> que com o aniquilamento do<br />

político nos regimes totalitários e a quebra da autorida<strong>de</strong> na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>, o<br />

questionamento sobre em quais condições um espaço político po<strong>de</strong>ria ser<br />

legitimamente instituído e conservado teria que ser recolocada 181 .<br />

Recolocada porque <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> é cônscia da <strong>de</strong>terminação da tradição<br />

da filosofia política na compreensão do domínio político. Esta tradição – que para<br />

a autora vai <strong>de</strong> Platão a Marx –, conforme foi salientado, justificou a existência do<br />

domínio político com o objetivo <strong>de</strong> torná-lo um meio para uma finalida<strong>de</strong> externa<br />

<strong>de</strong>terminada pela instância fundamentadora da tradição 182 . Para <strong>Arendt</strong>, a tradição<br />

metafísica <strong>de</strong> origem platônica subjugava o âmbito das experiências políticas – a<br />

ação, o discurso e a fundação – a uma instância transcen<strong>de</strong>nte e exterior,<br />

obscurecendo as manifestações autênticas nas quais o espaço político está<br />

enraizado. Este obscurecimento se manifestara na tradição quando esta<br />

compreendia a ação política nos mol<strong>de</strong>s da fabricação, enredando-a<br />

instrumentalmente na categoria <strong>de</strong> meio-fins; ao <strong>de</strong>svincular o discurso ou opinião<br />

política da ação, cindindo-a do contexto intersubjetivo e submetendo a opinião<br />

política ao registro da verda<strong>de</strong>; ao confundir po<strong>de</strong>r político com violência, e não<br />

como agir em concerto no espaço público; e, por fim, ao <strong>de</strong>rivar a fundação<br />

181 Paul RICOEUR, “Nos anos 1945 –- 1949, nos quais a experiência americana ainda não é<br />

<strong>de</strong>cisiva a possibilida<strong>de</strong> do mundo não-totalitário <strong>de</strong>ve ser buscada nas fontes <strong>de</strong> resistência e <strong>de</strong><br />

renascimento contidas na própria condição humana. A questão da filosofia, e mais precisamente<br />

da filosofia política, após a explosão concentracionista, anuncia-se assim: que barreiras e que<br />

recursos humanos a condição humana opõe à hipótese terrorista d in<strong>de</strong>finida plasticida<strong>de</strong> do<br />

homem-massa ... ”, Da filosofia ao político, In Em torno do político, p. 16. [grifo meu].<br />

182 H. ARENDT, “Tão antigas quanto a pergunta sobre o sentido da política são as respostas que<br />

justificam a política; quase todas as classificações ou <strong>de</strong>finições da coisa política que encontramos<br />

em nossa tradição são, quanto a seu conteúdo original, justificações. Falando-se <strong>de</strong> maneira<br />

bastante geral, todas essas justificações ou <strong>de</strong>finições têm como objetivo classificar a política como<br />

um meio para um fim mais elevado, sendo a <strong>de</strong>terminação <strong>de</strong>ssa finalida<strong>de</strong> bem diferente ao longo<br />

dos séculos”. OP, p. 45. [grifo meu] Para a questão das ‘falácias metafísicas’ no trato dos negócios<br />

políticos, ver E. TASSIN, La question <strong>de</strong> l’apparence, In Politique et pensée, (org.) M. ABENSOUR<br />

e outros,p. 69-71.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!