Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
secularização. Com efeito, o problema <strong>de</strong> como fundamentar a “fonte do direito que iria<br />
atribuir legalida<strong>de</strong> ao direito positivo, estatuído, e da origem do po<strong>de</strong>r que iria atribuir<br />
legitimida<strong>de</strong> aos po<strong>de</strong>res existentes” 177 , colocava-se como uma exigência na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />
Na sua configuração tradicional, a transmissão tácita da autorida<strong>de</strong> da fundação estava<br />
assegurada pela tradição que asseverava o seu reconhecimento. Segundo <strong>Arendt</strong>, “O<br />
próprio conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> romana sugere que o acto da fundação <strong>de</strong>senvolve,<br />
inevitavelmente, a sua própria estabilida<strong>de</strong> e permanência, e a autorida<strong>de</strong>, neste contexto,<br />
não é nem mais nem menos do que uma espécie <strong>de</strong> ‘argumentação’ necessária, em virtu<strong>de</strong><br />
da qual todas as inovações e alterações permanecem ligadas à fundação, que ao mesmo<br />
tempo elas aumentam e <strong>de</strong>senvolvem.” 178 Entretanto, sob condições mo<strong>de</strong>rnas, com o<br />
esgarçamento das tradições através dos processos <strong>de</strong> mo<strong>de</strong>rnização e da secularização<br />
política, o pressuposto do reconhecimento da autorida<strong>de</strong> pela via da tradição se encontra<br />
contestado, <strong>de</strong>correndo que a consistência entre o impulso fundador <strong>de</strong> uma instituição<br />
política e sua continuida<strong>de</strong> no tempo não está <strong>de</strong> antemão garantia. 179<br />
Para <strong>Arendt</strong>, a instituição <strong>de</strong> uma autorida<strong>de</strong> legítima na mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong> se colocava<br />
diante <strong>de</strong> dificulda<strong>de</strong>s: restituir a legitimida<strong>de</strong> para o domínio político secularizado,<br />
<strong>de</strong>senredando-o da herança greco-cristã que transformou o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> em<br />
Absoluto <strong>de</strong>s<strong>de</strong> que a experiência clássica dos romanos da fundação foi compreendida<br />
através da filosofia grega e reassumida pela Igreja Cristã. Para a autora, a compreensão da<br />
idéia <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> sob a ótica da idéia <strong>de</strong> dominação, <strong>de</strong> governo, <strong>de</strong> vonta<strong>de</strong>, terminava<br />
por interditar a diferença fundamental entre po<strong>de</strong>r e autorida<strong>de</strong> no âmbito da esfera política.<br />
Além disso, a quebra da autorida<strong>de</strong> das instituições políticas mo<strong>de</strong>rnas com a emergência<br />
das socieda<strong>de</strong>s <strong>de</strong> massas e a <strong>de</strong>negação da autorida<strong>de</strong> política nas instituições totalitárias,<br />
exigia da filosofia <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> a reconsi<strong>de</strong>ração filosófica <strong>de</strong>ste conceito na edificação da<br />
legitimida<strong>de</strong> do âmbito político. A própria perda da autorida<strong>de</strong> como um fenômeno<br />
177 I<strong>de</strong>m, SR, p. 157-158.<br />
178 I<strong>de</strong>m, SR, p. 200.<br />
179 Paul Ricoeur compreen<strong>de</strong> este ponto muito bem: “On ne peut pas parler chez <strong>Arendt</strong> d’une<br />
autorité <strong>de</strong> la tradition mais d’une tradicion <strong>de</strong> l’autorité. Je ne fais là aucun jeu <strong>de</strong> mots. Ce n’est<br />
que dans une pensée politique qui oppose critique à pratique qu’il ya unproblème spécifique <strong>de</strong><br />
vérité à l’égard duquel l’autorité <strong>de</strong> la trdicion est univoquement l’ennemi. ... En effet, dans une<br />
pensée pour laquelle la pratique politique et la gestion <strong>de</strong>s opinions détiennent le <strong>de</strong>rnier mot, il y a<br />
un problème <strong>de</strong> la tradicion <strong>de</strong> l’autorité, c’est-à-dire la recherche pour le pouvoir, si fragile et<br />
volatile, d’une équivalent pour chaque époque, <strong>de</strong> l’expérience romaine <strong>de</strong> la fondation.” Pouvoir et<br />
Violence, In Colloque <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> – Politique et Pensée, p. 176-177.