16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

autora, se Aristóteles distinguia ação <strong>de</strong> fabricação, ele ainda enredava a ação numa<br />

estrutura teleológica cujo quadro <strong>de</strong> referência era ainda a fabricação 169 .<br />

Para <strong>Arendt</strong>, a filosofia grega não possuía “nenhuma consciência <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que se<br />

baseasse em experiências políticas imediatas.” 170 Por esta razão, a filosofia política <strong>de</strong><br />

Platão e Aristóteles ao procurar um conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que restabelecesse a esfera<br />

política grega e assegurasse o domínio do filósofo sobre esta, tiveram <strong>de</strong> fiar-se em<br />

exemplos, metáforas e expressões extraídas <strong>de</strong> experiências <strong>de</strong> natureza não-política, seja<br />

experiências provenientes da ativida<strong>de</strong> fabricadora, seja <strong>de</strong> exemplos da esfera familiar<br />

ateniense. Estas interpretações do conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong>, na medida em que pressupunham<br />

a superiorida<strong>de</strong> do filósofo sobre a comunida<strong>de</strong> política e se orientavam pela idéia <strong>de</strong><br />

domínio prevalecentes na esfera doméstica grega, traduziam o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> por<br />

dominação, por governo, postulando que “os homens só po<strong>de</strong>m viver juntos, <strong>de</strong> maneira<br />

legítima e política, quando alguns têm o direito <strong>de</strong> comandar e os <strong>de</strong>mais são forçados a<br />

obe<strong>de</strong>cer.” 171<br />

Esta compreensão, que interpretava o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> <strong>de</strong> forma antipolítica, foi<br />

retomada quando os romanos na sua busca por tradição e autorida<strong>de</strong> em matéria <strong>de</strong><br />

pensamento e poesia assumiram a filosofia grega como sua tradição espiritual. Para <strong>Arendt</strong>,<br />

quando os romanos incorporaram a filosofia grega como tradição, esta retomada<br />

sobre<strong>de</strong>terminou a experiência política romana da autorida<strong>de</strong> orientada a partir da idéia da<br />

fundação da cida<strong>de</strong>, <strong>de</strong> modo que “o caráter <strong>de</strong>rivativo da autorida<strong>de</strong> e da tradição em<br />

assuntos espirituais não constituiu óbice a que elas se tornassem os traços prevalecente no<br />

pensamento filosófico oci<strong>de</strong>ntal durante a maior parte <strong>de</strong> nossa história.” 172<br />

Após o <strong>de</strong>clínio do Império Romano, a autorida<strong>de</strong> enquanto experiência vinculada à<br />

fundação política da cida<strong>de</strong> foi reassumida pelo Cristianismo através da assunção da Igreja<br />

169 H. ARENDT, “Aristóteles, mesmo se nunca aceitou a doutrina das idéias <strong>de</strong> Platão, também não<br />

escapou da nova reinterpretação platônica da práxis à luz da poiésis, apesar <strong>de</strong> suas afirmações<br />

em contrário. Foi ele quem introduziu <strong>de</strong> maneira sistemática a categorias <strong>de</strong> meios e fins na<br />

esfera da ação, não apenas ao afirmar que toda ação aten<strong>de</strong> a um telos, a um fim que a justifica e<br />

aos seus meios, mas, também, ao afirmar que a própria ação e a vida <strong>de</strong>votada a ela têm <strong>de</strong> ser<br />

julgadas <strong>de</strong> acordo com o modo <strong>de</strong> vida mais alto, em vista do qual ela é empreendida.” Karl Marx<br />

and the Tradicion of Western Political Thought: The Mo<strong>de</strong>rn Challenge to Tradition, p. 18-19. Apud.<br />

A. DUARTE. O Pensamento à Sombra da Ruptura – <strong>Política</strong> e Filosofia em <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 200-<br />

201.<br />

170 H. ARENDT, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 161.<br />

171 H. ARENDT, CHM, p. 284-285 [Trad. bras. p. 234].<br />

172 H. ARENDT, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 167.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!