Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
elação, em que o “elemento coercitivo repousasse na relação mesma e fosse anterior à<br />
efetiva emissão <strong>de</strong> or<strong>de</strong>ns” 165 . Fiando-se em exemplos <strong>de</strong> relações como a do pastor e seu<br />
rebanho, do senhor e do escravo, nos quais a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e a hierarquia estão implicadas<br />
na própria relação, Platão buscava infundir um critério que legitimasse a introdução da<br />
<strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e da hierarquia em contraposição à prevalência da ação e do discurso como<br />
móbeis da igualda<strong>de</strong> política ateniense. Para <strong>Arendt</strong>, na medida em que retomava estes<br />
exemplos, extraídos da esfera doméstica entre os gregos, Platão, no âmbito da sua filosofia,<br />
imbuiu sua teoria das idéias <strong>de</strong> um caráter normativo, substituindo as idéias enquanto<br />
essência verda<strong>de</strong>ira a serem contempladas por regras e medidas transcen<strong>de</strong>ntes a serem<br />
aplicadas. Conforme <strong>de</strong>monstra a autora, <strong>de</strong> maneira semelhante ao fato <strong>de</strong> a fonte <strong>de</strong><br />
autorida<strong>de</strong> ser exterior e legitimar o exercício do po<strong>de</strong>r, em Platão o caráter normativo da<br />
doutrina das idéias justificava o domínio do filósofo sobre a polis uma vez que seu caráter<br />
<strong>de</strong> regras e medidas transcen<strong>de</strong>ntes tornava o filósofo o pater que tinha autorida<strong>de</strong> para<br />
aplicá-las no âmbito político. Com o objetivo <strong>de</strong> justificar o domínio do filósofo sobre a<br />
polis, Platão politizou sua teoria das idéias com o objetivo <strong>de</strong> transformá-las em regras e<br />
padrões absolutos que governassem a conduta dos homens 166 .<br />
Com Aristóteles, <strong>de</strong>senha-se na filosofia política grega a segunda tentativa <strong>de</strong> <strong>de</strong>rivar<br />
o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> da idéia <strong>de</strong> domínio. Muito embora <strong>Arendt</strong> consi<strong>de</strong>re que a<br />
filosofia <strong>de</strong> Aristóteles é centrada na práxis e que o filósofo distinguia entre ativida<strong>de</strong>s da<br />
ação e da fabricação, quando Aristóteles introduziu o conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> nos negócios<br />
políticos, ele baseava-se em exemplos <strong>de</strong>rivados da “superiorida<strong>de</strong> do perito sobre o leigo”<br />
167 , recorrendo à diferença entre jovens e velhos como justificativa natural que exigia que<br />
uns dominassem outros. De acordo com a autora, “ele teve que recorrer a uma espécie <strong>de</strong><br />
solução improvisada <strong>de</strong> modo a tornar plausível a introdução <strong>de</strong> uma distinção, no campo<br />
político, entre os governantes e os governados, entre aqueles que mandam e aqueles que<br />
obe<strong>de</strong>cem. E também ele extraiu exemplos e mo<strong>de</strong>los apenas <strong>de</strong> uma esfera pré-política, do<br />
âmbito privado do lar e das experiências <strong>de</strong> uma economia escravistas.” 168 A<strong>de</strong>mais, para a<br />
165 I<strong>de</strong>m, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 148.<br />
166 I<strong>de</strong>m, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF ,p. 153-154.<br />
167 I<strong>de</strong>m, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 157.<br />
168 I<strong>de</strong>m, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 159-160. <strong>Arendt</strong> apoia-se na A <strong>Política</strong>, 1332b12 e<br />
1332b36.