Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
a experiência política da polis <strong>de</strong>mocrática tinham um conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e do tipo <strong>de</strong><br />
governo que <strong>de</strong>la resultava. A polis <strong>de</strong>mocrática assentava-se num tipo <strong>de</strong> governo baseado<br />
na separação entre público e privado e na igualda<strong>de</strong> pública dos cidadãos, manifesta nas<br />
liberda<strong>de</strong>s da palavra e da ação. Portanto, qualquer tentativa <strong>de</strong> introduzir uma autorida<strong>de</strong><br />
na esfera política significava ou que a igualda<strong>de</strong> constitutiva da polis era usurpada pela<br />
arbitrarieda<strong>de</strong> do tirano com a introdução da <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e da violência na esfera política,<br />
ou que, autenticamente, não se tratava do domínio político, mas sim da esfera privada, on<strong>de</strong><br />
o chefe da família introduzia a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> e o domínio como forma <strong>de</strong> liberar-se do fardo<br />
da necessida<strong>de</strong> para suas ocupações públicas.<br />
Em razão da ausência nos gregos <strong>de</strong> uma experiência <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> no domínio<br />
político, a filosofia política grega passou a buscar um princípio legítimo <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> que<br />
obstasse a <strong>de</strong>terioração da polis e assegurasse, a partir do conflito axial entre filosofia e<br />
política con<strong>de</strong>nsado no julgamento <strong>de</strong> Sócrates, o domínio do filósofo sobre esta. Conforme<br />
aludido, esta procura, para <strong>Arendt</strong>, está enraizada na perspectiva metafísica da filosofia<br />
grega <strong>de</strong> contestação da ação como o modo operante dos atenientes legitimarem sua esfera<br />
política e na busca <strong>de</strong> uma fundamentação absoluta para os assuntos políticos em face da<br />
insuficiência da ação e do discurso em garantir a continuida<strong>de</strong> da polis. 163 Para a autora, a<br />
filosofia política <strong>de</strong> Platão e Aristóteles dominou “todo o pensamento político subsequente,<br />
mesmo quando seus conceitos se sobrepuseram a experiências políticas tão diferentes como<br />
as dos romanos. Se quisermos não somente compreen<strong>de</strong>r as experiências políticas reais<br />
ocultas no conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> – o qual, pelo menos em seu aspecto positivo, é<br />
exclusivamente romano –, mas também enten<strong>de</strong>r a autorida<strong>de</strong> como os próprios romanos já<br />
a entendiam teoricamente, incorporando-a a tradição política do Oci<strong>de</strong>nte, <strong>de</strong>veremos nos<br />
ocupar brevemente com as características da Filosofia <strong>Política</strong> grega que tão <strong>de</strong>cisivamente<br />
influenciaram sobre sua formação.” 164<br />
Para <strong>Arendt</strong>, a tese platônica consiste, em suma, no seguinte: partindo do conflito<br />
originário do filósofo com a polis a partir do julgamento <strong>de</strong> Sócrates, Platão procura<br />
encontrar um princípio legítimo <strong>de</strong> coerção que substituísse a igualda<strong>de</strong> política da polis,<br />
baseando-se para tanto em relações nas quais a <strong>de</strong>sigualda<strong>de</strong> está assentada na própria<br />
163<br />
Sobre este ponto ver Odílio A. AGUIAR, A. Filosofia e <strong>Política</strong> no Pensamento <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong><br />
<strong>Arendt</strong>, p. 27-40.<br />
164<br />
H. ARENDT, O que é Autorida<strong>de</strong>?, In EPF, p. 145.