Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
You also want an ePaper? Increase the reach of your titles
YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.
Po<strong>de</strong>-se dizer que a palavra dada pela constituição da liberda<strong>de</strong> primitiva respon<strong>de</strong> a<br />
palavra oriunda da autorida<strong>de</strong>.” 156<br />
Através da politização da sua experiência inaugural, os romanos postulavam que as<br />
pessoas providas <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> política <strong>de</strong>veriam preservar e ampliar a fundação da cida<strong>de</strong><br />
através da adição <strong>de</strong> novos membros ao corpo político estabelecido. Como se operava isto<br />
na política romana? <strong>Arendt</strong> elucida esta questão estabelecendo um contraste na percepção<br />
do espaço político entre gregos e romanos. Para a autora, a <strong>de</strong>speito <strong>de</strong> os romanos serem<br />
“o povo gêmeo dos gregos porque <strong>de</strong>duziam sua origem enquanto povo do mesmo<br />
acontecimento, a Guerra <strong>de</strong> Tróia,” 157 a fundação da polis não era propriamente um ato<br />
político uma vez que tal tarefa era realizada por um Legislador que não era qualificado<br />
politicamente (po<strong>de</strong>ndo inclusive ser um estrangeiro), sendo apreendido como um<br />
fabricador do espaço político. As leis promulgadas pelo Legislador eram compreendidas<br />
tidas como fronteiras que <strong>de</strong>finiam um corpo político, circunscrevendo um espaço político<br />
limitado on<strong>de</strong> a ação política se realizava no seu interior. Fora <strong>de</strong>stas fronteiras, as relações<br />
eram presididas pelo princípio da coação e pelo direito do mais forte 158 . Assim, quando os<br />
gregos fundavam uma nova colônia, a lei instituída na cida<strong>de</strong>-mãe não tinha valida<strong>de</strong> nas<br />
colônias, <strong>de</strong> maneira que para se fundar um novo espaço político necessitava-se <strong>de</strong> um<br />
novo legislador.<br />
Com os romanos, é precisamente o gesto inaugural <strong>de</strong> constituir um corpo político<br />
que é politizado. Para os romanos, a fundação política da Cida<strong>de</strong> era apreendida como a<br />
mais alta ativida<strong>de</strong> política, sendo compreendida sob o signo do contrato, da aliança mútua<br />
qualificada por meio <strong>de</strong> palavras e ações. De acordo com <strong>Arendt</strong>, “quando os <strong>de</strong>scen<strong>de</strong>ntes<br />
<strong>de</strong> Tróia chegam em solo italiano foi nada mais nada menos do que o fato <strong>de</strong> a política<br />
surgir exatamente ali on<strong>de</strong> no caso dos gregos chegava em suas fronteiras e achava um fim”<br />
159 . Em razão <strong>de</strong> a i<strong>de</strong>ntida<strong>de</strong> do corpo político repousar sob o signo da pluralida<strong>de</strong> das<br />
partes envolvidas na aliança que assegurou a existência do povo, a lex romana, que<br />
edificava a fundação da cida<strong>de</strong> era compreendida originalmente como uma ligação<br />
156 A. ENEGRÉN, “Si la fondation lie le politique dns l’espace, l’autorité le lie dans le temps en lui<br />
conférant un lest dans le passé, une dimension, non <strong>de</strong> hauteur, mais <strong>de</strong> profon<strong>de</strong>ur. On pourrait<br />
dire qu’à la parole donée par la constitutio libertatis primitive répond la parole tenue par l’autorité.”<br />
La pensée politique <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 127.<br />
157 H. ARENDT, O que é <strong>Política</strong> ?, p. 105-106. Doravante OP.<br />
158 I<strong>de</strong>m, OP, p. 104.<br />
159 I<strong>de</strong>m, OP, p. 111.