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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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uma vez que estão <strong>de</strong>sprovidas do repertório <strong>de</strong> significações e exemplos autoritários que<br />

alimentavam sua valida<strong>de</strong>.<br />

Não obstante, se <strong>Arendt</strong> consi<strong>de</strong>rava que a tradição oci<strong>de</strong>ntal se esgarçava<br />

continuamente na época mo<strong>de</strong>rna, face a funcionalização <strong>de</strong> seus padrões com o<br />

<strong>de</strong>senvolvimento da ciência mo<strong>de</strong>rna, face à secularização que cindiu sua ligação<br />

com a autorida<strong>de</strong>, a quebra das tradições somente ocorreria nos estágios finais da<br />

época mo<strong>de</strong>rna com a superfluida<strong>de</strong> e o niilismo das massas mo<strong>de</strong>rnas, on<strong>de</strong> se<br />

cristalizariam as formas totalitárias <strong>de</strong> governo. Para a autora, “A dominação<br />

totalitária como um fato estabelecido, que, em seu ineditismo, não po<strong>de</strong> ser<br />

compreendida mediante as categorias usuais do pensamento político, e cujos<br />

‘crimes’ não po<strong>de</strong>m ser julgados por padrões morais tradicionais ou punidos<br />

<strong>de</strong>ntro do quadro <strong>de</strong> referência legal <strong>de</strong> nossa civilização, quebrou a continuida<strong>de</strong><br />

da História Oci<strong>de</strong>ntal. A ruptura em nossa tradição é agora um fato acabado. Não<br />

é o resultado da escolha <strong>de</strong>liberada <strong>de</strong> ninguém, nem sujeita a <strong>de</strong>cisão ulterior.” 138<br />

No seu diagnóstico da constituição da tradição Oci<strong>de</strong>ntal, <strong>Arendt</strong> frisa a<br />

distinção existente entre o esgarçamento das tradições na época mo<strong>de</strong>rna e sua<br />

quebra com o advento das massas e as formas totalitárias <strong>de</strong> governo. Esta<br />

distinção, para a autora, correspon<strong>de</strong> ao fato <strong>de</strong> que o totalitarismo não po<strong>de</strong>ria<br />

ser apreendido como um processo <strong>de</strong> culminância do <strong>de</strong>sgaste das tradições na<br />

época mo<strong>de</strong>rna mas, ao contrário, sua forma <strong>de</strong> domínio e sua i<strong>de</strong>ologia,<br />

assinalaram uma ruptura nos padrões das tradições. Nas suas palavras, “o<br />

caráter não-<strong>de</strong>liberado da quebra dá a ela uma irrevogabilida<strong>de</strong> que somente os<br />

acontecimentos, nunca os pensamentos, po<strong>de</strong>m ter.” 139 Com o totalitarismo, os<br />

critérios da tradição foram exauridos em face do ineditismo <strong>de</strong>sta forma <strong>de</strong><br />

138 H. ARENDT, A Tradição e a Época Mo<strong>de</strong>rna, In EPF, p. 53-54. Cf. W. BENJAMIN,<br />

“Generalizando, po<strong>de</strong>mos dizer que a técnica da reprodução <strong>de</strong>staca do domínio da tradição o<br />

objeto reproduzido. Na medida em que ela multiplica a reprodução, substitui a existência única da<br />

obra por uma existência serial. E, na medida em que essa técnica permite à reprodução vir ao<br />

encontro do espectador, em todas as situações, ela atualiza o objeto reproduzido. Esses dois<br />

processos resultam num violento abalo da tradição ... “A obra <strong>de</strong> arte na era <strong>de</strong> sua<br />

reprodutibilida<strong>de</strong> técnica”, In Magia e Técnica, Arte e <strong>Política</strong>. Obras Escolhidas 1, p. 168-169.<br />

139 H. ARENDT, A Tradição e a Época Mo<strong>de</strong>rna, In EPF, p. 55. A. DUARTE, O Pensamento à<br />

Sombra da Ruptura – <strong>Política</strong> e Filosofia em <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, p. 154-158.

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