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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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<strong>de</strong>senvolvimento <strong>de</strong> um conceito funcional <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> que não mais se movia no antigo<br />

quadro <strong>de</strong> referência da tradição 124 .<br />

Para a autora, a época mo<strong>de</strong>rna é originada do predomínio da ciência e da técnica, baseia-se<br />

em uma filosofia da dúvida 125 cuja característica é a suspensão da realida<strong>de</strong> que é <strong>de</strong>svelada<br />

pelos sentidos e da dúvida frente ao que é revelado pelas aparências 126 . Conforme analisa, a<br />

ciência mo<strong>de</strong>rna está preocupada “em <strong>de</strong>scobrir o que jaz por <strong>de</strong> trás dos fenômenos<br />

naturais tais como se revelam aos sentidos e à mente humana” 127 e, a partir <strong>de</strong>sta<br />

pressuposição, assenta o postulado <strong>de</strong> que a verda<strong>de</strong> não é revelada pelos sentidos, mas tem<br />

origem numa hipótese <strong>de</strong> trabalho em que a realida<strong>de</strong> é submetida e transformada segundo<br />

seus sucessivos mo<strong>de</strong>los informados. A funcionalização da idéia <strong>de</strong> verda<strong>de</strong> na ciência,<br />

resultava em uma contestação do pressuposto da transmissão e do acolhimento dos padrões<br />

e medidas que conferiam valida<strong>de</strong> à tradição. Primeiro, pela recusa <strong>de</strong> que estes padrões e<br />

medidas se revelarão por si mesmos, bastando à mente humana acolhê-los; segundo, pela<br />

negação <strong>de</strong> que os sentidos humanos são aptos a recebê-los e transmiti-los, posto que, para<br />

a época mo<strong>de</strong>rna, a verda<strong>de</strong> não está ao alcance dos sentidos e sim por trás das aparências<br />

sensíveis. A funcionalização <strong>de</strong>stes padrões e medidas na época mo<strong>de</strong>rna assinala que o<br />

pressuposto da continuida<strong>de</strong> assente da tradição ao longo do tempo não está mais garantido.<br />

Para <strong>Arendt</strong>, “A antiga oposição entre a verda<strong>de</strong> sensual e a verda<strong>de</strong> racional, entre a<br />

capacida<strong>de</strong> inferior dos sentidos e a capacida<strong>de</strong> superior da razão no tocante à apreensão da<br />

verda<strong>de</strong>, per<strong>de</strong>u sua importância ao lado <strong>de</strong>sse <strong>de</strong>safio, ao lado da óbvia implicação <strong>de</strong> que<br />

a verda<strong>de</strong> e a realida<strong>de</strong> não são dadas, que nem uma nem outra se apresentam como é, e que<br />

somente na interferência com a aparência, na eliminação das aparências, po<strong>de</strong> haver<br />

124 H. ARENDT, CHM, p. 363-368. [Trad. bras. p. 303-306].<br />

125 I<strong>de</strong>m, “... a nova filosofia mo<strong>de</strong>rna voltou-se com tamanha veemência – na verda<strong>de</strong>, com uma violência<br />

que se avizinha do ódio – contra a tradição, abolindo sumariamente a entusiasta restauração e a re<strong>de</strong>scoberta<br />

da antigüida<strong>de</strong> pela Renascença.” CHM, p. 348 [Trad. bras. p. 289].<br />

126 G. AGAMBEN, “A transformação <strong>de</strong> seu sujeito não <strong>de</strong>ixa imutável a experiência tradicional.<br />

Enquanto seu fim era o <strong>de</strong> conduzir o homem à maturida<strong>de</strong>, ou seja, a uma antecipação da morte<br />

como idéia <strong>de</strong> uma totalida<strong>de</strong> consumada da experiência, ela era <strong>de</strong> fato algo <strong>de</strong> essencialmente<br />

finito, e logo, era algo que se podia ter e não somente fazer. Mas, uma vez referida ao sujeito da<br />

ciência, que não po<strong>de</strong> atingir a maturida<strong>de</strong>, mas apenas acrescer os próprios conhecimentos, a<br />

experiência tornar-se-á, ao contrário, algo <strong>de</strong> essencialmente infinito, um conceito ‘assintótico,<br />

como dirá Kant, ou seja, algo que se po<strong>de</strong> somente fazer e jamais ter; nada mais, precisamente,<br />

do que o processo infinito do conhecimento.” “Infância e História – Ensaio sobre a <strong>de</strong>struição da<br />

experiência”, In Infância e História – Destruição da experiência e origem da história, p. 32-33.<br />

127 H. ARENDT, A Conquista do Espaço e a Estatura Humana, In EPF, p. 328.

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