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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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Resumidamente, na alegoria da caverna contida no livro VII da sua obra A Republica,<br />

Platão <strong>de</strong>screve o trajeto do filósofo que se liberta dos grilhões da caverna que o prendiam<br />

ao mundo das sombras, emergindo paulatinamente da visão precária dos objetos sensíveis<br />

para o céu límpido das idéias puras; num próximo passo, o filósofo volta à caverna para<br />

impor padrões e medidas absolutas para informar a visão precária que os prisioneiros tem<br />

dos objetos sensíveis. Para <strong>Arendt</strong>, a alegoria da caverna está baseada na inversão do<br />

mundo homérico: não é a vida após a morte que constitui o mundo das sombras, mas sim a<br />

vida na terra; a alma não é a sombra do corpo mais o corpo é que é a sombra da alma; os<br />

movimentos sem sentido da alma no mundo das sombras existem <strong>de</strong> fato é no mundo<br />

terreno. A alegoria da caverna com suas seguidas viravoltas (retournement – periagoge) <strong>de</strong><br />

um nível sensível a um nível inteligível e <strong>de</strong> um reino inteligível para um sensível, guarda<br />

um profundo significado para a emergência da tradição Oci<strong>de</strong>ntal e seu <strong>de</strong>sdobramento ao<br />

longo da história 119 . Para a autora, padrões e medidas eternos em oposição ao mundo<br />

sensível das aparências, quando foram assumidos pelos romanos como sua tradição<br />

espiritual, passaram a or<strong>de</strong>nar o quadro <strong>de</strong> referência em torno do qual se organizava a<br />

tradição, <strong>de</strong> maneira que a tensão entre os dois termos da oposição estabeleceu o parâmetro<br />

em torno do qual a tradição se or<strong>de</strong>nava e adquiria consistência conforme um dos termos da<br />

dicotomia era enfatizado. Para <strong>Arendt</strong>,<br />

“A asserção mesma <strong>de</strong> um dos opostos – fi<strong>de</strong>s contra intellectus, prática contra teoria, vida<br />

sensível e perecível contra verda<strong>de</strong> permanente, imutável e supra-sensível – necessariamente traz<br />

à luz o oposto repudiado e mostra que ambos somente têm sentido e significação em sua<br />

oposição. Além disso, pensar em termos <strong>de</strong> tais opostos não é algo óbvio, mas funda-se em uma<br />

primeira e gran<strong>de</strong> operação <strong>de</strong> virar sobre a qual todas as outras se baseiam em última instância,<br />

por estabelecer ela os opostos em cuja tensão se move a tradição.” 120<br />

A articulação dos termos cuja tensão conferia continuida<strong>de</strong> à tradição, permitia que seus<br />

valores e padrões <strong>de</strong> medida assegurassem sua transmissão ao longo da história. Assim,<br />

para a autora, do <strong>de</strong>senvolvimento da filosofia na antigüida<strong>de</strong> tardia, com suas várias<br />

oscilações entre uma escola que afirmava a esfera sensível ou a esfera inteligível, até à<br />

mo<strong>de</strong>rna oscilação na filosofia entre i<strong>de</strong>alistas e materialistas, valeu-se do quadro<br />

referencial da tradição assentado na diferença entre sensível e supra-sensível, cujo início<br />

119 H. ARENDT, A Tradição e a Época Mo<strong>de</strong>rna, In EPF, p. 64-65.<br />

120 I<strong>de</strong>m, A Tradição e a Época Mo<strong>de</strong>rna, In EPF, p. 64.

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