Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
Create successful ePaper yourself
Turn your PDF publications into a flip-book with our unique Google optimized e-Paper software.
Segundo <strong>Arendt</strong>, a tradição Oci<strong>de</strong>ntal se constituiu quando os romanos assumiram a cultura<br />
e a filosofia gregas como sua tradição espiritual, <strong>de</strong>correndo que a filosofia grega passou a<br />
ter uma influência performativa na configuração da tradição Oci<strong>de</strong>ntal. A adoção da<br />
filosofia grega pelos romanos <strong>de</strong>cidia historicamente, “que a tradição viria a ter uma<br />
influência formativa permanente sobre a civilização européia.” 116 Para a autora, na filosofia<br />
<strong>de</strong> Platão e Aristóteles estão assentadas as bases metafísicas da tradição Oci<strong>de</strong>ntal e,<br />
através do exame <strong>de</strong>stas filosofias, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que elas foram fundantes na<br />
organização e disposição com as quais a tradição Oci<strong>de</strong>ntal se transmitiu e asseverou sua<br />
consistência ao longo da história.<br />
Estas filosofias, segundo a análise da autora, originaram-se no contexto histórico do<br />
julgamento e da morte <strong>de</strong> Sócrates, sendo impulsionadas por filósofos cuja atitu<strong>de</strong> básica<br />
se traduzia numa rebelião do filósofo contra a polis e na “sua pretensão ao governo, mas<br />
não tanto por amor à polis e à política (...), como por amor à filosofia e à segurança do<br />
filósofo.” 117 Para <strong>Arendt</strong>, está no centro da estrutura metafísica da tradição Oci<strong>de</strong>ntal o<br />
conflito entre o filósofo e a polis. Como tal, no cerne <strong>de</strong>sta tradição está a busca <strong>de</strong> padrões<br />
com os quais o filósofo pu<strong>de</strong>sse se sobrepor as experiências políticas da polis <strong>de</strong>mocrática<br />
ateniense – a ação e o discurso – on<strong>de</strong> o domínio do filósofo pu<strong>de</strong>sse ser assegurado na<br />
polis. No seu texto A Preocupação <strong>Política</strong> do Actual Pensamento Filosófico Europeu,<br />
<strong>Arendt</strong> sintetiza este conflito originário entre filosofia e política no início da tradição:<br />
“O facto que inaugurou a nossa tradição <strong>de</strong> pensamento político foi o processo e a morte <strong>de</strong> Sócrates, a<br />
con<strong>de</strong>nação do filósofo pela polis. As questões, que obcecaram Platão e as quais o número das respostas<br />
dadas é quase idêntico ao das filosofia políticas originais, foram as seguintes: como po<strong>de</strong> a filosofia protegerse<br />
e libertar-se do domínio dos assuntos humanos? Quais são as melhores condições (a ‘melhor forma <strong>de</strong><br />
governo’) do ponto <strong>de</strong> vista da activida<strong>de</strong> filosófica ? 118<br />
Padrões e medidas metafísicos que a filosofia grega buscava para infundir autorida<strong>de</strong> na<br />
esfera política, assegurando o domínio do filósofo sobre a polís, passaram a <strong>de</strong>terminar<br />
conceitualmente a estrutura metafísica que organizava e transmitia a tradição oci<strong>de</strong>ntal.<br />
Para <strong>Arendt</strong>, a influência performativa que os padrões metafísicos gregos tiveram na<br />
tradição Oci<strong>de</strong>ntal foi orientada em seu momento originante a partir da filosofia <strong>de</strong> Platão.<br />
116 H. ARENDT, A Tradição e a Época Mo<strong>de</strong>rna, In EPF, p. 52-53.<br />
117 H. ARENDT, O que é Autorida<strong>de</strong> ?, In EPF, p. 147.<br />
118 H. ARENDT, A Preocupação <strong>Política</strong> do Actual Pensamento Filosófico Europeu, In CP, p. 327-<br />
328.