16.04.2013 Views

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

SHOW MORE
SHOW LESS

You also want an ePaper? Increase the reach of your titles

YUMPU automatically turns print PDFs into web optimized ePapers that Google loves.

Ou seja, <strong>de</strong> um lado, a crença na imortalida<strong>de</strong> individual per<strong>de</strong>u sua força politicamente<br />

coercitiva, e, <strong>de</strong> outro, a confiança na permanência do mundo como garantia <strong>de</strong><br />

sobrevivência terrena após a morte também se <strong>de</strong>svaneceu 98 .<br />

“A separação entre religião e política significava que, não importando o que um indivíduo pu<strong>de</strong>sse crer<br />

como membro <strong>de</strong> uma igreja, como cidadão ele agiria e se comportaria com base na suposição da mortalida<strong>de</strong><br />

humana. O medo <strong>de</strong> Hobbes das chamas do inferno não exerceu a menor influência em sua construção do<br />

governo como o Leviatã, um <strong>de</strong>us mortal atemorizador <strong>de</strong> todos os homens. Politicamente falando, <strong>de</strong>ntro do<br />

próprio reino secular, a secularização não significava senão que os homens haviam <strong>de</strong> novo se tornado<br />

mortais.” 99<br />

Alijada <strong>de</strong> seus fundamentos políticos, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que no <strong>de</strong>curso da procura<br />

<strong>de</strong> um fundamento próprio para a esfera secular em face <strong>de</strong> perda da crença religiosa na<br />

imortalida<strong>de</strong> da vida individual, a época mo<strong>de</strong>rna encontrou seus fundamentos próprios na<br />

imortalida<strong>de</strong> potencial da espécie humana 100 . Para a autora, posto que era na imortalida<strong>de</strong><br />

potencial da espécie – nos processos biológicos que asseguravam a sua existência – que o<br />

domínio secular assegurava sua especificida<strong>de</strong>, sua permanência podia ser assegurada<br />

“confiada a um processo fluido, em oposição a uma estrutura estável”. 101 Conforme suas<br />

análises, se a emergência <strong>de</strong> uma esfera secular in<strong>de</strong>pen<strong>de</strong>nte das sanções religiosas<br />

reativava a possibilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> existência <strong>de</strong> uma esfera política autônoma, porém, a época<br />

mo<strong>de</strong>rna restituiu seu significado nos processos metabólicos da espécie.<br />

Do registro da obra Anti-semitismo, passando pela A Condição Humana e até o ensaio<br />

O conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, o conceito <strong>de</strong> secularização em <strong>Arendt</strong><br />

comporta a reflexão da autora sobre a emergência e a trajetória da época mo<strong>de</strong>rna. Na<br />

medida em que <strong>de</strong>fini a secularização como “processo”, como “interiorida<strong>de</strong> religiosa”,<br />

<strong>Arendt</strong> reconduz através a análise da secularização os fundamentos que norteiam o<br />

instituição da mo<strong>de</strong>rnida<strong>de</strong>.<br />

98 H. ARENDT, “A antiga confiança na maior permanência da existência do mundo que na <strong>de</strong><br />

indivíduos humanos, e nas estruturas políticas como uma garantia <strong>de</strong> sobrevivência terrena <strong>de</strong>pois<br />

da morte, não retornou, <strong>de</strong>svanecendo-se <strong>de</strong>ssa forma a antiga oposição <strong>de</strong> uma vida mortal a um<br />

mundo mais ou menos imortal. Agora, tanto a vida como o mundo tornaram-se perecíveis, mortais,<br />

fúteis.” O Conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, In EPF, p. 108.<br />

99 I<strong>de</strong>m, O Conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, In EPF, p. 108.<br />

100 I<strong>de</strong>m, O Conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, In EPF, p. 109.<br />

101 I<strong>de</strong>m, O Conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, In EPF, p. 110.

Hooray! Your file is uploaded and ready to be published.

Saved successfully!

Ooh no, something went wrong!