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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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se a vida individual novamente se tornava mortal, o problema era que a mortalida<strong>de</strong><br />

retornava em um mundo que havia perdido seus fundamentos transcen<strong>de</strong>ntes e que,<br />

portanto, não po<strong>de</strong>ria mais oferecer abrigo para a finitu<strong>de</strong> da existência humana. Neste<br />

ensaio, ao mesmo tempo em que <strong>de</strong>marca a separação irreversível entre religião e política,<br />

com a secularização, a autora mostra problemas com os quais se <strong>de</strong>fronta a esfera política<br />

mo<strong>de</strong>rna com a perda das sanções religiosas no domínio político.<br />

Segundo as análises <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>, para os cristãos, somente homens individuais eram<br />

consi<strong>de</strong>rados imortais, e nem o mundo, nem nada a ele pertencente, po<strong>de</strong>ria ser consi<strong>de</strong>rado<br />

como dotado <strong>de</strong> permanência própria. Para os cristãos, somente transcen<strong>de</strong>ndo o mundo<br />

humano po<strong>de</strong>riam se realizar ativida<strong>de</strong>s dotadas <strong>de</strong> imortalida<strong>de</strong>. Este pressuposto para a<br />

concepção cristã, na filosofia da autora, significava a inversão da antiga relação entre o<br />

homem e o mundo tal como formulado na tradição clássica greco-romana, promovendo a<br />

vida individual mortal à posição antes ocupada pela eternida<strong>de</strong> do cosmo. Do ponto <strong>de</strong><br />

vista histórico, estas mudanças implicavam uma resposta àqueles que presenciaram o<br />

<strong>de</strong>clínio <strong>de</strong> um mundo comum com a <strong>de</strong>corrente inexistência <strong>de</strong> um abrigo permanente para<br />

a mortalida<strong>de</strong> da vida individual.<br />

Na sua análise da vita activa 89 , <strong>Arendt</strong> enfatiza que a promoção da vida individual em<br />

um mundo não dotado <strong>de</strong> permanência implica o fato <strong>de</strong> a estima da vida ter rebaixado as<br />

ativida<strong>de</strong>s da vita activa – trabalho, fabricação e ação – ao mero posto <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

subalternas <strong>de</strong>stinadas a remediar a condição secular do homem, marcada pela<br />

perecibilida<strong>de</strong> e por seu caráter transitório. Para a autora, “A ênfase colocada pelo<br />

cristianismo na inviolabilida<strong>de</strong> da vida tendia a nivelar, anulando as antigas distinções e<br />

expressões da vita activa; tendia a ver o trabalho, a fabricação e a ação como igualmente<br />

sujeitos às vicissitu<strong>de</strong>s da vida na Terra.” 90 Com o Cristianismo, é a vida individual que<br />

ascen<strong>de</strong>rá ao lugar <strong>de</strong> permanência antes assegurada aos corpos políticos das cida<strong>de</strong>s<br />

antigas. Como tal, com exceção do indivíduo, o mundo e os processos naturais estavam<br />

sujeitos a perecibilida<strong>de</strong>, e era somente transcen<strong>de</strong>ndo o mundo através <strong>de</strong> ativida<strong>de</strong>s<br />

imortalizadoras que a vida individual po<strong>de</strong>ria ser redimida 91 .<br />

89 H. ARENDT, CHM, p. 51 e p. 391 [Trad. bras. p. 24 e p. 237].<br />

90 I<strong>de</strong>m, CHM , p. 392 – 393 [Trad. bras. p. 329].<br />

91 H. ARENDT, O Conceito <strong>de</strong> História – Antigo e Mo<strong>de</strong>rno, In EPF, p. 83.

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