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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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judaica em face da secularização <strong>de</strong> suas tradições via assimilação 83 . A principal<br />

conseqüência foi que fazer parte do povo ju<strong>de</strong>u tornou-se para os ju<strong>de</strong>us assimilados uma<br />

mera questão pessoal. Se antes, a religião e nacionalida<strong>de</strong> específicas <strong>de</strong>terminavam a<br />

manutenção <strong>de</strong> tradições compartilhadas nas quais os ju<strong>de</strong>us permaneciam agrupados,<br />

visando, por exemplo, certas vantagens econômicas, com a assimilação social dos ju<strong>de</strong>us<br />

estas tradições foram secularizadas pela transformação do judaísmo em <strong>de</strong>nominação<br />

confessional, <strong>de</strong> tal forma que <strong>de</strong>las somente restava o vago sentimento <strong>de</strong> pertencimento a<br />

um povo escolhido. Para a autora,<br />

“a secularização produziu o paradoxo <strong>de</strong>cisivo para a formação da psicologia do ju<strong>de</strong>u mo<strong>de</strong>rno: tendo<br />

transformado a religião nacional – essência do grupo – em formal <strong>de</strong>nominação confessional, e eliminando a<br />

consciência nacional ao substituir o ambíguo <strong>de</strong>sejo <strong>de</strong> Estado e Socieda<strong>de</strong> próprios por não menos ambíguos<br />

engenhos psicológicos, a secularização engendrou o chauvinismo ju<strong>de</strong>u, enten<strong>de</strong>ndo-se por chauvinismo o<br />

nacionalismo pervertido no qual (nas palavras tiradas <strong>de</strong> Chesterton) ‘o próprio indivíduo <strong>de</strong>ve ser adorado<br />

como reflexo do grupo ao qual pertence, tornando-se o seu próprio i<strong>de</strong>al e até o seu próprio ídolo’” 84 .<br />

Nas suas análises, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que a secularização do Judaísmo envolvia<br />

também os intelectuais ju<strong>de</strong>us que passavam a se assujeitar aos ju<strong>de</strong>us reformistas que<br />

pretendiam transformar a religião nacional em mera <strong>de</strong>nominação confessional 85 . Conforme<br />

<strong>de</strong>monstra, os reformistas ansiavam, para tanto, modificar os dois elementos fundamentais<br />

na fé judaica – a esperança em um Messias e a crença na eleição <strong>de</strong> Israel – e eliminar as<br />

visões <strong>de</strong> restauração do Sião nas orações judaicas. Como resultado das transformações por<br />

que passaram, os ju<strong>de</strong>us assimilados, a inteligentisia judia e os reformistas religiosos, as<br />

tradições judaicas foram secularizadas <strong>de</strong> maneira que se cindiu nas tradições judaicas a<br />

união entre a crença em um povo escolhido e a vinda do Messias. Como afirma <strong>Arendt</strong>,<br />

“certo <strong>de</strong> ter-se libertado dos laços e preconceitos nacionais, o intelectual ju<strong>de</strong>u, ao sonhar com um<br />

paraíso na Terra, estava na verda<strong>de</strong> mais longe da realida<strong>de</strong> política do que seus pais, que, ao rezarem pela<br />

83<br />

Para a expressão “secularização do judaísmo assimilado”, cf. ver Anti – semitismo, In OT, p. 96.<br />

84<br />

I<strong>de</strong>m, Anti – semitismo, In OT, p. 97.<br />

85<br />

H. ARENDT, “O reformador ju<strong>de</strong>u que transformou a religião nacional em <strong>de</strong>nominação religiosa,<br />

sabendo que a religião é um assunto privado; o revolucionário ju<strong>de</strong>u que fingia ser um cidadão do<br />

mundo para <strong>de</strong>sfazer-se da nacionalida<strong>de</strong> judaica; o ju<strong>de</strong>u educado, que era “um homem na rua e<br />

um ju<strong>de</strong>u em casa” – todos eles conseguiram converter a qualida<strong>de</strong> nacional em assunto privado”,<br />

Anti – Semitismo, In OT, p. 106.

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