Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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O significado da categoria “secularização” encontra-se inscrito em diversos registros<br />
investigativos na obra <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>. Já na sua obra Anti-Semitismo 77 , o significado da<br />
secularização mo<strong>de</strong>rna é examinado por <strong>Arendt</strong> por meio <strong>de</strong> um estudo sobre o problema<br />
da assimilação das comunida<strong>de</strong>s judaicas na Europa da Aufklärung, com os dilemas<br />
<strong>de</strong>correntes para as tradições judaicas em uma socieda<strong>de</strong> secular. Ao <strong>de</strong>sdobrar uma leitura<br />
do conceito <strong>de</strong> secularização a partir <strong>de</strong>ste problema, <strong>Arendt</strong> articula-o ainda com o <strong>de</strong>stino<br />
da autorida<strong>de</strong> política do Estado nacional mo<strong>de</strong>rno. No escopo <strong>de</strong> análise da obra Origens<br />
do Totalitarismo, esta conexão se traduz na tese <strong>de</strong> que a emergência da questão judaica ao<br />
centro dos acontecimentos do século XX <strong>de</strong>ve ser compreendida articulando-se a<br />
secularização das tradições judaicas com o <strong>de</strong>stino da autorida<strong>de</strong> política do Estado<br />
nacional europeu 78 .<br />
De forma resumida, a tese <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que, na medida em que os ju<strong>de</strong>us<br />
foram historicamente os financiadores do processo <strong>de</strong> <strong>de</strong>senvolvimento das estruturas do<br />
Estado-nacional europeu e foram inseridos – a partir da sua incorporação social – aos<br />
estratos da população com o igualitarismo e a Ilustração, esse povo passou a canalizar sobre<br />
si tensões e ressentimentos na socieda<strong>de</strong>, caso esta entrasse em conflito com o Estado. As<br />
tensões entre os ju<strong>de</strong>us e a socieda<strong>de</strong>, por sua vez, se suce<strong>de</strong>rem em um contexto que os<br />
ju<strong>de</strong>us perdiam a sua função tradicional no fortalecimento do <strong>de</strong>senvolvimento estatal, com<br />
a posse da burguesia da máquina do Estado com o advento do Imperialismo, colocando-se<br />
no cerne dos conflitos entre Estado e socieda<strong>de</strong> quando eram alijados das suas funções<br />
tradicionais 79 . Na análise da obra Anti-semitismo, <strong>Arendt</strong> trabalha com a dupla ambigüida<strong>de</strong><br />
resultante da emancipação dos ju<strong>de</strong>us na época mo<strong>de</strong>rna: <strong>de</strong> um lado, a igualda<strong>de</strong> política e<br />
legal adquirida face à estrutura jurídico-política do Estado mo<strong>de</strong>rno e à assimilação social<br />
dos ju<strong>de</strong>us, e, <strong>de</strong> outro, o privilégio político estendido aos ju<strong>de</strong>us como grupo em face da<br />
sua relação com o Estado.<br />
Se <strong>Arendt</strong> inscreve sua análise do anti-semitismo no processo <strong>de</strong> transformação da<br />
relação dos ju<strong>de</strong>us com o Estado nacional, é na sua leitura da assimilação <strong>de</strong> ju<strong>de</strong>us na<br />
Europa nos séculos XVIII e XIX, que o significado da secularização aparece. Na obra Anti-<br />
Semitismo, <strong>Arendt</strong> <strong>de</strong>monstra que, à medida que os ju<strong>de</strong>us eram assimilados pelos extratos<br />
77 H. ARENDT, Anti – semitismo, In OT, p. 17 – 143.<br />
78 I<strong>de</strong>m, ARENDT, Anti – semitismo, In OT, p. 29 - 30<br />
79 H. ARENDT, Anti – Semitismo, In OT, p. 29.