Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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Weber, atestando a crença através <strong>de</strong> resultados objetivos e imbuindo nos fiéis o<br />
sentimento <strong>de</strong> pre<strong>de</strong>stinação por meio <strong>de</strong> uma vocação secular recomendada.<br />
Segundo Weber, “sua ativida<strong>de</strong> originava-se da fé causada pela graça <strong>de</strong> Deus, e<br />
esta, por sua vez, justificava-se pela qualida<strong>de</strong> daquela ativida<strong>de</strong> tornada legítima<br />
para Deus.” 69 A doutrina da pre<strong>de</strong>stinação, certificada constantemente através das<br />
obras como sinal <strong>de</strong> escolha divina, mediada por uma concepção puritana <strong>de</strong><br />
vocação religiosa cuja ênfase é posta no caráter metódico da ascese vocacional,<br />
expressa no labor secular como meio seguro <strong>de</strong> adquirir salvação, é que se<br />
encontra discernido o processo <strong>de</strong> secularização mo<strong>de</strong>rna 70 .<br />
Com efeito, retomar as formulações weberianas sobre o significado da secularização<br />
mo<strong>de</strong>rna e seu significado para a fé religiosa são <strong>de</strong> gran<strong>de</strong> valia para a compreensão da<br />
secularização em <strong>Arendt</strong>. Para a autora, na análise weberiana da articulação dos i<strong>de</strong>ais<br />
ascéticos da reforma com a racionalida<strong>de</strong> objetiva das socieda<strong>de</strong>s mo<strong>de</strong>rnas, subjaz a<br />
compreensão <strong>de</strong> que a secularização não significa mundanida<strong>de</strong>. De acordo com <strong>Arendt</strong>, se<br />
o ascetismo interior dos protestantes contribuiu para a materialização do espírito da época<br />
mo<strong>de</strong>rna, com o <strong>de</strong>corrente solapamento dos alicerces da fé na Instituição Cristã uma vez<br />
manifesta sua qualida<strong>de</strong> extramundana, foi <strong>de</strong>vido ao fato <strong>de</strong>ste espírito secularizante<br />
expressar a alienação do mundo e o arremessamento do homem em direção a sua<br />
interiorida<strong>de</strong>. Para <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>,<br />
“a alienação em direção a um mundo interior, cuja autenticida<strong>de</strong> histórica Max Weber <strong>de</strong>monstrou em<br />
seu famoso ensaio, está presente não apenas na nova modalida<strong>de</strong> resultante das tentativas <strong>de</strong> Lutero e Calvino<br />
<strong>de</strong> restaurar a inflexível qualida<strong>de</strong> extramundana da fé cristã; está igualmente presente, embora em nível<br />
inteiramente diverso, na expropriação das classes camponesas, conseqüência imprevista da expropriação dos<br />
bens da Igreja e, como tal, o fator isolado mais importante no colapso do sistema feudal.” 71<br />
A secularização mo<strong>de</strong>rna não significa o envolver-se em ativida<strong>de</strong>s mundanas em<br />
face do eclipse das explicações pré-mo<strong>de</strong>rnas <strong>de</strong> cunho religioso/ transcen<strong>de</strong>ntal. Na esteira<br />
69 Ibid, p. 79.<br />
70 Ibid, p. 123. I<strong>de</strong>m, As seitas protestantes e o espírito do capitalismo. In Ensaios <strong>de</strong> Sociologia, p.<br />
347-370. Seria preciso <strong>de</strong>sdobrar todas implicações jurídico-politicas que a questão da<br />
secularização comporta na análise <strong>de</strong> Max Weber. A este respeito, ver: A. F. PIERUCCI,<br />
“Secularização em Max Weber – Da contemporânea serventia <strong>de</strong> voltarmos a acessar aquele velho<br />
sentido”. Revista Brasileira <strong>de</strong> Ciências Sociais, 13: 37.<br />
71 I<strong>de</strong>m, CHM, p. 319. [Trad. bras. p. 263-265].