Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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converte a fonte <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> da lei, <strong>de</strong>corrente do ajuizamento individual das<br />
ações humanas a partir <strong>de</strong> critérios gerais, em própria expressão da justiça.<br />
Assim,<br />
“A legitimida<strong>de</strong> totalitária, <strong>de</strong>safiando a legalida<strong>de</strong> e preten<strong>de</strong>ndo estabelecer diretamente o<br />
reino da justiça na terra, executa a lei da História ou da Natureza sem convertê-la em critérios <strong>de</strong><br />
certo e errado que norteiem a conduta individual. Aplica a lei diretamente à humanida<strong>de</strong>, sem<br />
aten<strong>de</strong>r à conduta dos homens. Espera que a lei da Natureza ou a lei da História, <strong>de</strong>vidamente<br />
executada, engendre a humanida<strong>de</strong> como produto final;” 62<br />
Mais recentemente, Clau<strong>de</strong> Lefort também assinalou que o totalitarismo<br />
constitui uma “forma superior <strong>de</strong> legitimida<strong>de</strong>”:<br />
“O que parece <strong>de</strong>rrisório é a tentativa <strong>de</strong> assimilar o mo<strong>de</strong>lo totalitário, ou sua última versão, ao<br />
mo<strong>de</strong>lo <strong>de</strong> uma ditadura militar-burocrática. Diferentemente <strong>de</strong> todas as espécies <strong>de</strong> ditadura que se<br />
apresentam como legítimas em circunstâncias particulares, preten<strong>de</strong>ndo salvar a pátria, abrindo-se até mesmo<br />
para um caminho in<strong>de</strong>finido, o po<strong>de</strong>r totalitário se arroga uma legitimida<strong>de</strong> absoluta e instaura uma or<strong>de</strong>m<br />
que preten<strong>de</strong> ser irreversível. Instaura uma or<strong>de</strong>m que preten<strong>de</strong> ser irreversível. Instala uma socieda<strong>de</strong> em<br />
horizontes intransponíveis. O possível é excluído. Uma voz vinda do alto, com acentos líricos nos primeiros<br />
tempos, anuncia: eis o mundo novo, o homem novo. Mais tar<strong>de</strong>, a voz profere: o que quer que <strong>de</strong>sejes, não<br />
conseguirás.” 63<br />
Nos capítulos seguintes, procuraremos <strong>de</strong>monstrar como este questionamento da legitimida<strong>de</strong> política<br />
no totalitarismo teve <strong>de</strong>sdobramentos no pensamento <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>. Nosso ponto <strong>de</strong> partida, é que a<br />
partir da separação e articulação do conceito <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> e po<strong>de</strong>r, <strong>Arendt</strong> reconstruiu o conceito <strong>de</strong><br />
legitimida<strong>de</strong> política, questão esta compreensível somente se atinarmos para o fato <strong>de</strong> que o problema da<br />
legitimida<strong>de</strong> política no totalitarismo atravessa as ulteriores formulações da autora. Porém, antes<br />
investigaremos como a idéia <strong>de</strong> autorida<strong>de</strong> legítima se constituiu no pensamento da autora, para, a partir do<br />
background conceitual do termo, mostrar como a configuração tradicional da autorida<strong>de</strong> política sofreu uma<br />
profunda contestação na época mo<strong>de</strong>rna.<br />
62 I<strong>de</strong>m, IT, p. 508 [Trad. bras. p.514]<br />
63 C. LEFORT, Reflexões sobre o presente, In Desafios da Escrita política, p. 361. [grifo meu].