Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...
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natureza <strong>de</strong> um regime e seu princípio <strong>de</strong> ação 50 . Esta distinção repõe a diferença<br />
entre a estrutura <strong>de</strong> governo – seu aparato instrumental e as formas <strong>de</strong><br />
organização do sistema político – e a virtu<strong>de</strong> específica que o move e o faz<br />
permanecer na estrutura que <strong>de</strong>riva da natureza do governo. Ao retomar esta<br />
distinção conceitual, <strong>Arendt</strong> preten<strong>de</strong> assinalar como a instituição do terror e da<br />
I<strong>de</strong>ologia é o que <strong>de</strong>fine o totalitarismo como regime político. Neste caso, para a<br />
autora, o terror totalitário constitui a essência (natureza) do regime, uma vez<br />
entendido que sua essência não é a unida<strong>de</strong> universal que torna passível <strong>de</strong><br />
reconhecê-lo apreen<strong>de</strong>ndo as suas manifestações particulares, mas sim a<br />
essência dada sob o signo do movimento das leis naturais engendradas na<br />
organização 51 . De outro lado, as i<strong>de</strong>ologias constituem o princípio <strong>de</strong> ação do<br />
totalitarismo, uma vez que a autopropulsão interna das i<strong>de</strong>ologias dota as massas,<br />
na expressão <strong>de</strong> <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, <strong>de</strong> um sexto-sentido mobilizado que coaduna as<br />
massas com a perseverança da instituição do terror total.<br />
Todavia, é preciso compreen<strong>de</strong>r aqui o caráter da modificação da retomada<br />
arendtiana da diferença entre estrutura <strong>de</strong> governo e seu princípio <strong>de</strong> ação na<br />
<strong>de</strong>terminação da formulação do totalitarismo como novida<strong>de</strong> política 52 . Como já<br />
referido, a <strong>de</strong>finição da forma <strong>de</strong> governo sob o signo do terror, implica a<br />
compreensão <strong>de</strong> que efetivamente não é em uma estrutura <strong>de</strong> governo que o<br />
po<strong>de</strong>r totalitário está edificado, mas no caráter <strong>de</strong> movimento, <strong>de</strong> processo que<br />
provê toda a estrutura <strong>de</strong> governo dos traços singulares das organizações<br />
totalitárias. Consoante isso, o princípio <strong>de</strong> ação que move o regime totalitário não<br />
é um princípio <strong>de</strong> ação que se manifestaria através <strong>de</strong> uma virtu<strong>de</strong> específica, mas<br />
sim um princípio <strong>de</strong> movimento que implica a inutilida<strong>de</strong> <strong>de</strong> todo princípio <strong>de</strong> ação,<br />
posto que visa o prosseguimento do movimento do terror através da inscrição dos<br />
indivíduos na sua instituição. Na análise <strong>de</strong> <strong>Arendt</strong>, a compreensão da novida<strong>de</strong><br />
do totalitarismo reenvia ao fato <strong>de</strong> que a primazia da essência do regime sob o<br />
signo do movimento, e da i<strong>de</strong>ologia, como lógica <strong>de</strong> uma idéia, assinalam uma<br />
50 ARENDT, H. “Monstesquieu’s revision of the tradition”, In The Promise of Politics, p. 63-65.<br />
51 AMIEL. A. <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong> – <strong>Política</strong> e Acontecimento, p. 37-38.<br />
52 M. ABENSOUR, D’une mésinterprétation du totalitarisme et <strong>de</strong> sés effets, p. 767.