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Hannah Arendt: Legitimidade e Política - Programa de Pós ...

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lógica que presi<strong>de</strong> o movimento, uma vez <strong>de</strong> posse dos aparelhos <strong>de</strong> violência do Estado e da lógica da<br />

realpolitik que presi<strong>de</strong> seus negócios, coloca-se no dilema <strong>de</strong> estabilizar-se no po<strong>de</strong>r e permanecer sujeito às<br />

leis que presi<strong>de</strong>m o governo das nações – nos quais as nações são dotadas <strong>de</strong> um território, com um povo e<br />

uma tradição nacional que condicionam sua relação com as <strong>de</strong>mais nações – ou solapar as instituições do<br />

Estado para que o movimento da organização possa prosseguir.<br />

Certa da segunda posição, para <strong>Hannah</strong> <strong>Arendt</strong>, na experiência <strong>de</strong> edificação do totalitarismo no po<strong>de</strong>r,<br />

encontra-se inscrita a lógica <strong>de</strong> domínio que reintroduz no regime <strong>de</strong> governo a rígida observação das normas<br />

dos movimentos 32 . Para tanto, o totalitarismo no po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>nega a estabilização em que o reconhecimento <strong>de</strong><br />

uma autorida<strong>de</strong> política seria possível, <strong>de</strong> modo que qualquer estrutura legal ou governamental é solapada<br />

pelo ímpeto do movimento <strong>de</strong> massas. Neste caso,<br />

“o estabelecimento <strong>de</strong> uma se<strong>de</strong> oficial e oficialmente reconhecida para o movimento (ou sucursais, no<br />

caso <strong>de</strong> países satélites), e a aquisição <strong>de</strong> uma espécie <strong>de</strong> laboratório on<strong>de</strong> o teste possa ser feito com realismo<br />

(ou contra a realida<strong>de</strong>) – o teste <strong>de</strong> organizar um povo para objetivos finais que <strong>de</strong>sprezam a individualida<strong>de</strong> e<br />

a nacionalida<strong>de</strong>. O totalitarismo no po<strong>de</strong>r usa a administração do Estado para o seu objetivo a longo prazo <strong>de</strong><br />

conquista mundial e para dirigir as subsidiárias do movimento; instala a polícia secreta na posição <strong>de</strong><br />

executante e guardiã da experiência doméstica <strong>de</strong> transformar constantemente a ficção em realida<strong>de</strong>; e,<br />

finalmente, erige campos <strong>de</strong> concentração como laboratórios especiais para o teste do domínio total. 33<br />

Para <strong>Arendt</strong>, a ascensão do totalitarismo ao po<strong>de</strong>r significa a dissolução da autorida<strong>de</strong> política do<br />

estado nacional e das instituições <strong>de</strong> que se apossa, entre uma autorida<strong>de</strong> real e uma autorida<strong>de</strong> fictícia, entre<br />

um domínio ostensivo e um domínio real, que do ponto <strong>de</strong> vista concreto, significa a dupla autorida<strong>de</strong> do<br />

partido e do Estado, uma real e outra aparente. Essa duplicação visava suplantar a autorida<strong>de</strong> dos órgãos do<br />

Estado nacional pela multiplicação <strong>de</strong>les no partido. Esse expediente organizacional objetivava minar toda<br />

autorida<strong>de</strong> sempre que esta se tornava reconhecível e reintroduzia continuamente uma nova autorida<strong>de</strong> on<strong>de</strong> a<br />

anterior se transformava em fachada política, consoante o ímpeto dos movimentos <strong>de</strong> massas. Este fato para o<br />

totalitarismo significava que o reconhecimento e a estabilização das or<strong>de</strong>ns emanadas das hierarquias<br />

ensejariam a estabilização da autorida<strong>de</strong> da qual as or<strong>de</strong>ns são emanadas 34 .<br />

Em outras palavras, uma vez que o conhecimento da fonte das or<strong>de</strong>ns e a sedimentação<br />

comparativamente permanente da hierarquia po<strong>de</strong>riam introduzir um elemento <strong>de</strong> estabilida<strong>de</strong> alheio ao<br />

domínio totalitário, os nazistas constantemente repudiavam a verda<strong>de</strong>ira autorida<strong>de</strong>, sempre que esta se<br />

tornava pública, e criavam novas instâncias <strong>de</strong> governo, em relação ‘as quais a anterior virava governo<br />

fantasma – um jogo que, é claro, podia continuar ad infinitum. Uma das mais importantes diferenças técnicas<br />

entre o sistema soviético e o sistema nazista é que Stálin, sempre que transferia a ênfase do po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>ntro do<br />

movimento <strong>de</strong> um aparelho para outro, tendia a liquidar o aparelho juntamente com o seu pessoal, enquanto<br />

32 I<strong>de</strong>m, “ Uma vez que o totalitarismo permanece fiel aos dogmas originais do movimento, as<br />

notáveis semelhanças entre os expedientes organizacionais do movimento e o chamado Estado<br />

totalitário não <strong>de</strong>vem causar surpresa.” Totalitarismo, In OT, p. 462.<br />

33 I<strong>de</strong>m, Totalitarismo, OT, p. 442.<br />

34 I<strong>de</strong>m, “A única regra segura num Estado totalitário é que, quanto mais visível é uma agência<br />

governamental, menos po<strong>de</strong>r <strong>de</strong>tém e, quanto menos se sabe da existência <strong>de</strong> uma instituição,<br />

mais po<strong>de</strong>rosa ela é.” Totalitarismo, In OT, p. 453.

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